dEUS, “Roses”, in https://www.youtube.com/watch?v=8Gj2MCf2G80
Ouvimos violinos. E de que cor são as notas alardeadas pelos violinos? São da mesma cor das rosas aos nossos pés. Nós, soberanos na embocadura do miradouro, olhamos para o resto do mundo. Não somos suas figuras tutelares. Somos como um botão de rosa que se costura no rosto do mundo. E de rosas perfumadas trajamos quando ao palco subimos. De rosas mestiças somos cartão de visita. Emprestamos sentimento à melodia dos violinos. Deitamo-nos em forma de sementeira nos campos onde fruem as rosas. Não irrompemos, intempestivos e em câmara supersónica, como se uns breves segundos resgatassem a evolução das figuras larvares até ao seu estado terminal. Somos como as rosas, no seu vagaroso medrar. As pétalas que se servem ao apetite do mundo. Pétalas cientes do cisma do ar que as abraça, sabedoras da imunidade contra os elementos exteriores. À noite, deitamo-nos numa cama de rosas. Somos o seu odor, a quimera feita da coreografia dos nossos corpos. Se houvesse metáfora no exterior das metáforas, o vestígio dos nossos passos seria um tapete de rosas várias, multiformes, um arco-íris de perfumes legados ao mundo. E sabemos que o mundo somos nós. Sabemo-lo, porque lemos a estrofe vertida em tinta ténue numa pétala despojada: “o valor facial desta rosa é o uníssono dos dois amantes, de seu nome:”. Não queremos saber das atrocidades da vida. Não queremos ser aval dos contratempos sem mesura. Ungimo-nos com uma vestimenta de pétalas e desfilamos no espaço exíguo em que somos uma imensa constelação de estrelas, dizendo que não sabemos desenhar as fronteiras do que somos. Assinamos por baixo, com o sangue feito das rosas carmim que se congraçam nas mãos. Depois, deixamos que as folhas do calendário se desprendam das ameias. Até que se faça o hoje que nos prometemos com a matéria atuarial do presente.
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