New Order, “Thieves Like Us”, in https://www.youtube.com/watch?v=R32hZp4qrBk
Eram fracos e não mentiam fingindo que não o eram. Trémulas, as mãos incendiavam o medo com as trevas da fragilidade. Se fossem ao fundo do fingimento, seriam a negação do que são, mentiras de si próprios. Não ocultando a miríade de provas que confirmam a fraqueza, todavia perseguiam-se na mortificação de vítimas; era como se houvesse um sortilégio na fragilidade e não fossem frugais na sua ostentação. De fora, podia ser que adivinhassem um jogo, estulto como são os jogos que se emaranham em descoloridos véus de fingimento: diziam, com desdém, que os fracos procuravam na sua emulsão um módico de comiseração. Era como se a piedade exteriorizada viesse em sua salvação. Já não se importavam de cavalgar nas esporas da fragilidade. Era o salvo-conduto para a atenção dos outros. E eles, os fracos, sabiam que muitos dos que costuravam a comiseração padeciam do mesmo sobressalto – mas não o admitiam, ou, entretidos com a luz forte, não mediam o seu estatuto. Ainda hoje está por saber se a perpétua condição da fragilidade era um anátema, ou apenas um refúgio para serem visíveis aos olhares dos outros. Por perceberem a irremediável fraqueza em que se consumiam, tornavam-na um bálsamo. Ao menos – terciam a seu favor – não se escondiam em véus absolutos que devolviam um rosto baço, um faz-de-conta que não deve nada à humildade de reconhecer quem se é. A sua fragilidade era o código postal que os identificava. Sem pesares de permeio, no caso dos que não transfiguravam a fragilidade em sua fingida fortaleza. Os fracos que o eram por espontânea condição não queriam saber dos olhares exteriores e desdenhavam da compaixão de que fossem destinatários. Reservavam a maldição para as faldas das interiores consumições. Esse era o demónio que os segava.
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