dEUS, “The Magic Hour” (live at Route du Rock), in https://www.youtube.com/watch?v=TROvAP-i3-g
“Hoje cheguei em oitavo lugar” – e isso era bom, ou apenas medíocre? Malditos rankings que nos enumeram em escalas classificativas que, por sua vez, são o espelho soez do fogo de artifício da competitividade. “Isso – o oitavo lugar – era bom, ou apenas medíocre?” Dependia de variáveis fora do controlo (assim queria acreditar o que chegara em oitavo lugar, talvez fraquejando na confissão de que o oitavo lugar não era motivo de orgulho). Se forem oito a concorrer, o oitavo lugar é o último. Pode não ser sinal de fraqueza: sendo uma maratona, a perseverança posta à prova, é preciso contar os muitos (dezenas, centenas?) que capitularam. Ver a meta no oitavo lugar é uma proeza. “Mas, de que servem as proezas?” Proémios banais, inconsequentes, uma espécie de fala para dentro de si mesmo – pois estas comendas não se ostentam para o exterior. “Tens de te convencer do quê?” Às vezes, a vida esbarra num olímpico processo que exige a decantação de um desafio impensável, o sortilégio que se atravessa no presságio de uma impossibilidade. “E como sabes que se trata de uma impossibilidade? Não estarás a ajuizar por excesso, só para ficares com a glória de um desafio que se fingiu ser uma empreitada impossível? Um disfarce de impossibilidade não chega a ser impossibilidade. Não constitui um desafio transcendente.” O segredo está em ouvir o corpo, ou a alma (depende dos tempos e das vicissitudes). Seja para chegar em oitavo lugar ou para ficar mais para baixo na classificação. “As demandas interiores só me dizem respeito.” “Então não me digas que chegaste em oitavo lugar.” É preciso admitir uma maldição divina (ou lá o que isso seja) que nos arruma no feudo das ordenações numéricas. “Eu quero lá saber que seja o oitavo lugar.”
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