Fontaines D.C., “Televised Mind”, in https://www.youtube.com/watch?v=lE7vLPSfw6Q
As imensas peles que se escondem sob a pele em exibição. São precisas, todas essas peles. Porque são diferentes os palcos a que temos de subir, em cada um deles estacionando um desafio diferente que só pode ser digerido com uma pele a preceito. Muda-se de pele e – dir-se-á – perdemos aos poucos a coluna vertebral. Não é por acaso, a metáfora. Pode-se manter a inteireza, salvando a medula no que ela tem de autenticidade, mas possivelmente somos presas fáceis no chão onde se terçam as aleivosias, onde não há regras articuladas no tempo e no espaço – onde todos deitam a mão à primeira tábua para não serem suprimidos pela maré que se impacienta. Ou pode-se jogar com os talheres do pragmatismo, mudando a pele de cada vez que o corpo tem de subir a um palco diferente. Por ser tanta a complexidade do presente, são muitos os palcos a que somos convocados. Para sermos diligentes em cada palco, temos de ser a representação da versatilidade – temos de ser atores de corpo inteiro e, no uso de cada epiderme, fazer as vezes de quem temos de ser para não sermos presas a fugir do caçador. Os assanhados cultores da modernidade, embriagados pelo licor da pusilânime pele desmultiplicada, viram o rosto para o lado da maré-baixa; não se importam: já perderam o brio da coluna vertebral há muito tempo, não os podem acusar da virgindade angustiante que assalta os que prosseguem a retidão. Convivem com os imberbes que cuidam da boa saúde da coluna vertebral. Estes só têm conhecimento de uma pele (não necessariamente a pele com que nasceram; pode ser a pele que vestiram a páginas tantas). Interrogam-se: um camaleão não deixa de ser um camaleão? (Pois um camaleão não resulta da transfiguração de um Homem.) Muda-se de pele, e é-se a mesma pessoa?
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