Conjunto Cuca Monga, “Tou na Moda”, in https://www.youtube.com/watch?v=Qhgs7hmxuZE&frags=pl%2Cwn
Um arrepio de distopia e logo se desembaraçam da hibernação os muitos cavaleiros que montam nas esporas do apocalipse. Há cavaleiros para todos os gostos. E apocalipses para todos os gostos. O mundo há de ser sempre, aos olhos destes cavaleiros, uma sucessão de promessas de implosão. Não se pode dizer que sejam cavalheiros com o mundo. Colocam-no perenemente no limiar de um abismo. Cuidam de identificar uma pulsão autofágica: é a espécie que cuidará da sua própria extinção. O apocalipse será evitado se os Homens mudarem. Não podem continuar a ser os agentes de um suicídio antropológico. Quando o tempo é a emulsão de um momento crítico, os cavaleiros convertem o habitual exercício de desconfiança num oráculo onde amanhece uma distopia. O remédio para a distopia é a mudança de mentalidades e a mudança de regras segundo o receituário dos cavaleiros que montam no estigma do apocalipse. Poder-se-ia dizer que o arrepio de distopia convém aos cavaleiros que medram num dos vários apocalipses possíveis. Sem o perfume da desgraça que povoa o cenário distópico, estes cavaleiros não tinham causa. No fundo, os cavaleiros do apocalipse têm de agradecer à ganância dos que gravitam nos seus antípodas: sem a avareza do modelo que recusam, os cavaleiros viveriam de quê? Como os tempos arranhados pela unha da distopia também são lautamente frequentados por teorias da conspiração, aqui fica uma para memória futura: os cavaleiros que nidificam num imenso rosário de apocalipses não seriam ninguém sem a ajuda dos que denunciam. Nunca um adversário foi tão generoso para quem se lhe opõe. O que qualifica o adversário (a estreiteza de vistas e um ensimesmar suicidário). E, todavia, os poderosos continuam a desenhar as costuras do mundo, por muito que os cavaleiros montem num caleidoscópio de apocalipses. O povo anda distraído.
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