Explosions in the Sky, “It’s Never Going to Stop”, in https://www.youtube.com/watch?v=C5clRjfm1B4
Ninguém está preparado para a partida. Ninguém dissolve as memórias quando os preparos de uma partida tomam conta do tempo por algum tempo. Mesmo quando se pensava que o tempo da despedida prescrevera, a exaltação da memória reaviva os efeitos telúricos da partida. Mesmo quando a partida foi uma bênção, a despedida pode empolar a memória futura.
Por que precisamos de dizer adeus?
A simplicidade apurar-se-ia se as convenções prescindissem da despedida. É assim que somos educados. Dizemos olá num começo e dizemos adeus quando o tempo é tingido por um fim (temporário ou definitivo). Não desligamos o telefone sem dizer adeus ou um seu eufemismo. É cultural. Vamos a outros lugares e vemos filmes que retratam outras culturas e as pessoas e a despedida é seca, sem palavras; as pessoas não precisam de dizer “até amanhã” ou “adeus”, ou outra fórmula que sintetize a despedida. Se há uma despedida, ela é intuída nos silêncios que rematam uma conversa. Pode ser que nesses lugares as pessoas tenham medo de dizer adeus, que o adeus se transfigure num definitivo e soe a pressentimento.
Podíamos prescindir das despedidas. Apenas nos cumprimentaríamos num começo. Nada diríamos quando nos deixássemos uns aos outros, fosse para nos voltarmos a ver amanhã ou sabe-se lá quando, ou talvez nunca mais. Liquidaríamos o adeus, até por causa da etimologia da palavra. Ou, o que é mais significativo, da carga negativa que uma despedida pode ter.
Em tempos ouvi um poeta dizer que não devíamos dizer adeus numa despedida. A riqueza do vocabulário traz múltiplos eufemismos para o adeus – até podemos congeminar linguagem cifrada, para esconjurar os maus-olhados de uma despedida. O equívoco da despedida não estava saldado. Dir-se-ia adeus por interpostas palavras, mas seria um adeus. A angústia do adeus não seria erradicada.
Fazer uma despedida sem dizer adeus é uma forma de dizer adeus por outras palavras. Talvez porque a despedida é um bálsamo e fique tatuada, para memória intemporal, na pele de quem diz adeus e de quem o ouve.
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