Massive Attack, “Sly”, in https://www.youtube.com/watch?v=Dsv21Qq3hOc
Este é o celeiro dos exemplares únicos, o úbere cheio de visionários, aqueles sempre diferentes dos demais que não reconhecem que esse é um atributo abonatório de todos sem exceção. Uma pradaria imensa onde cabem uns poucos, convencidos da sua singularidade, ufanos de tanta tinta distintiva que os torna únicos.
Este é o lugar onde afocinham eus descomunais que proclamam a sua excelência, sem saberem que a excelência entre ímpares não constitui marca distintiva. Ser primus inter ímpares é anunciar espalhafatosamente que eles são únicos e, por definição, estão no topo da cadeia alimentar. Se não fossem tão sensíveis à sua singularidade, a ostentação das comendas faria a diferença.
Este é o tempo em que a singularidade é confundida com originalidade. Os seus procuradores ensaiam uma teoria que contém no enunciado a sua própria negação. São tão únicos que nisso são indiferentes de todos os demais de quem reivindicam, com exuberância, serem diferentes. Todos são diferentes e isso seria cláusula suficiente para encher o planeta com espécimes ímpares. Fora dos circuitos dos que se autoadoram, entre os que não se incomodam em serem indiferentes para os demais, a singularidade não passa de um anátema exclusivo dos que passam pelo mundo com o seu ar muito afetado.
A própria condição – ser primeiro entre todos – é uma infantilidade grosseira. Mesmo os predestinados, os que saltam a vara do conhecimento e fornecem pazadas de novo conhecimento, ou os que entram para a galeria dos imortais, sabem que todos somos singulares, mas feitos de carne e sangue idênticos. Diferimos na semelhança; somos semelhantes na diferença. Não perdemos o sono por causa disso, exceto os que consomem regularmente espelhos grandes para de si mesmos terem uma dimensão a condizer. Acabam a ser os maiores clientes de antidepressivos e pílulas para dormir.
Ser primus inter ímpares tem tanta importância como o campeonato dos últimos. O primeiro coincide sempre com o último.
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