12.11.12

Igreja pau para toda a obra


In http://zaroio.net/i/o/2006110812340713.jpg
Não tenho nada com a igreja católica, nem a igreja perde um minuto comigo. Devia, porventura, ficar atado ao silêncio, que as coisas da igreja me não dizem respeito. Mas a versatilidade da igreja é tocante. Parte dela é campanha de marketing cuidada pela própria. Já percebeu que o rebanho de fieis tem vindo a minguar e que a crise também chegou às missões. Outra parte é-lhe presenteada por sectores que sempre a apoucaram. Algumas esquerdas oportunistas, com criatividade hermenêutica, reinterpretam os evangelhos, colocando Cristo ao serviço dos mais pobres explorados pelos abastados e pelos senhores dos poderes fácticos. E tal como vemos bispos a fazer política quando discursam na imprensa, ou são oferecidas imagens de catitas sacerdotes à beira da apoplexia num estádio de futebol, ou até adivinhamos padres em pecado por não saberem reprimir os instintos carnais, também não estranhemos que uma freira liberte a adrenalina a conduzir um kart (e, para cúmulo da transgressão, desafiando os cânones da segurança por ter esquecido o capacete). Ou, aterrando na América Latina, recuamos, pela mão de uma peça de teatro (“Missa dos Quilombos”), à teologia da libertação que teve a inventividade de colocar armas nas mãos de um Cristo que guerreia em nome do povo explorado. Desconheço o que diriam os marxistas ortodoxos, que nunca cuidaram das coisas do espírito e tiveram desavenças históricas com as religiões e entidades divinas. Talvez os marxistas ortodoxos, quase todos, tenham perdido a máscara ortodoxa e foram na maré da reinvenção da metafísica. Pode-se chamar oportunismo, ou apenas uma conversão interessada para encostar os abastados ao isolamento. “Porque a terra, merece-a quem a trabalha.” E Cristo, é de lembrar, foi uma versão antecipada do Robin dos Bosques. Os padres deviam catequizar os crentes, apontando-lhes o justo caminho da sublevação contra os ricos (que são todos de má rês). E o Vaticano, andasse a igreja sob a batuta do que é certo, devia ser o novo palco da festa do Avante e a Sé da Lisboa o lugar do congresso da extrema-esquerda caviar.

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