30.11.12

Requiem pelos nabos (houvera um)


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Podia ser dos tubérculos, a prosa. Da sopa deles, ou da que é feita com aromáticas ramagens que os encimam. Ou podia perorar, a prosa, sobre o travo acidulado que emprestam, os nabos, ao bacalhau de consoada. Em vendo bem as coisas, se calhar, ao jeito de metáfora, é sobre tudo isso (e mais ainda).
Os nabos têm personificação. Os maiores e mais nutridos são os que se ornamentam de uma erudição só ao alcance de um escol. Trazem consigo um bornal de certezas onde não há espaço para um laivo de dúvidas, que essas sobram para os que se entretêm com a abstrusa filosofia, ou para os pobres de espírito consumidos em sua terrífica ignorância. Estão três passos mais à frente dos demais. Veem muito além das habituais lentes que enformam o discernimento comum. Sobredotados da atualidade. Para não sobrar qualquer vestígio que turve a impetuosa moralidade que transpiram, apoucam quem tiver o topete de aparecer pela frente a beliscar calosidades anquilosadas.
Há nabos pequenos e nabos grandes. E os de médio calibre. Os nabos que ficaram aquém do sumptuoso tamanho não se aventuram na presunção. Ouvem as suas limitações. Não metem pé em terreno escorregadio. Os nabos com pose estadista, talvez por cobiçarem ser estadistas, sabem da poda como a poucos é permitido saber (por contumazes incapacidades de intelecto). São príncipes de um nabal de um habitante só (o príncipe em pessoa).
Às vezes apetecia entregar o leme da coisa às mãos de um nabo príncipe. Só por um dia – ou por um mês, requisitando mais vinte e nove nabos da restrita confraria, para tratar dos assuntos candentes. Só depois se aquilatava se eram predestinados para a causa pública, ou se nidificavam num amadorismo ungido por um caldo de presunção beatífica (adornada por uma autoimagem maior que a bolçada pelo espelho por onde se fitam).
Bem vistas as coisas, estes nabos, como os tubérculos espécimes, são matéria-prima para um caldo agridoce. Em estando dia sorumbático, irritam. Fora desses, que são os mais frequentes, instantes, são um laudatório à boa disposição. Só quem não aprecia nabos (os tubérculos) não atinge a dedução. 

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