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Pode ser recalcamento que sobra da
infância: ninguém gostava, nem admitia,
que a covardia fosse seu pergaminho. Pode ser apenas afirmação pessoal,
um desvario inconsequente para exibir o desassombro que não é para qualquer um.
Às vezes, a mania de que somos de uma bravura singular. Achamos que os outros
nos admiram pela irreverência que se transforma em coragem. Seja física, ou
apenas a coragem que se esgrime na ponta dos dedos, à medida que eles desenham
palavras que gritam uma audácia. É um exibicionismo estéril. Uma adolescência
extemporânea. São frequentes as exibições gratuitas de coragem. São gratuitas
porque, como exibições, são uma vaidade para fora. É como se a coragem interior
apenas fosse afivelada se os outros a testemunharem. Se não tiver audiência, a
coragem desfaz-se na irrelevância que o não devia ser: a irrelevância de quem
foi audaz; mas a irrelevância errada, pois é o apoucamento de si mesmo. Com
tanta urgência em ostentar destemor, os foliões da bravura perdem o siso. Por
entre a penumbra da ilusão, a coragem não é coragem. Passou a fronteira da
loucura. São atos destemidos, só ao alcance de quem misture muita coragem com
uma dose de demência não detetada, um cocktail
às vezes fatal. As provocações podem arejar a autoimagem e cozer o mercúrio do
termómetro, tanta a altivez que se decompõe em fervura. Os sentidos, nessa
altura, escondem-se na cortina baça da imprudência. Asnear passa a ser método
quando ficou para trás a fronteira entre a coragem e a loucura, os pés já
calcorreando os lodosos terrenos da loucura. A coragem deixa de estar
emparelhada com a lucidez. Tememos. Pois amiúde a demência é um estado sem
reversão. E, à laia de não sermos enterrados no lodo demencial, acantona-se a
coragem num lugar recôndito da ação. É quando regressam os pueris fantasmas de
outrora: ninguém gosta de levar em cima com o rótulo de covarde.
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