In http://l.yimg.com/bt
Regressemos à margem do rio, onde o ar
fresco levita as palavras. Não nos deixamos tomar pelo novelo de metáforas. Ou,
em querendo enriquecer a linguagem, olhamos para a lhaneza das metáforas, evitamos
hipérboles e escolhemos a dedo as figuras de estilo. Convém pormos rosto a
preceito quando as palavras vêm no travesti de uma figura de estilo.
Quando virmos a prometida barca passar,
no compasso com o rio em demanda da sua foz, olhemos com atenção a figura
garbosa dos navegantes. Interrogamos um marinheiro atento a quem passa na
margem, interrogamo-lo sobre a parança da barca. Mas é longe e o rumorejo das
águas caldeia as palavras do marujo com o ininteligível. Podíamos seguir a rota
da barca a trote, mas a corrente do rio traz força, que os últimos dias têm
sido pluviosos. Não conseguimos. Nem que estugássemos o passo e tivéssemos o
mesmo tirocínio de atletas, não conseguíamos.
Deitamo-nos a imaginar em que cais
aportará a barca. Na nossa demanda, passamos por um pescador que comenta com
outro pescador que a barra está traiçoeira, as ondas do mar encrespadas
metendo-se pelo rio dentro que desce, com a sua voracidade, às águas mais
profundas tingidas pela salinidade. Pressagiamos uma tarefa medonha para a
barca. Entendemos agora a agonia no rosto dos marinheiros. Não sabem se a
aventura terá fim frondoso. As noivas esperam-nos no cais, embrulhadas nos
terços e numa ladainha coletiva, as preces todas afinadas para a salvação da
viagem dos amados.
Ninguém assegura que a viagem não
termine em estilhaços quando a barca afocinhar nas águas tempestuosas da
embocadura do rio, feitas de turbilhões em forma de pesadelo. Nisto, olhamos os
olhos nossos, tomados pela agonia emprestada. Nada, é o que podemos fazer. E à
míngua de preces, que as não sabemos sondar, deixamos o destino da empreitada
para as novas que vierem no dia seguinte. Se as novas forem omissas sobre a
barca corajosa, será a nova que queremos saber.
Os estilhaços dos outros são o canto da
nossa simplicidade. De que servem as dores alheias se elas emprestam dores a
nós mesmos? Reparar nelas é imperativo. A agonia, deixamo-la para quem nela
naufraga.
Sem comentários:
Enviar um comentário