20.11.12

Do hino sagrado – ou: se não nos levássemos tão a sério éramos mais felizes


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Um jovem piloto de automóveis, nacionalidade portuguesa, vence uma corrida importante em Macau. Uma vez no pódio, não havia hino nacional para celebrar a grandeza pátria (ou seria a proeza do piloto?). Os amigos do rapaz é que entoaram a cançoneta. A muitos milhares de quilómetros, na terra que consagrou o hino, a proeza desportiva não foi notícia; notícia foi o hino ausente. Alguns protestaram. Ofendidos com a desfeita, sentenciam: é um incidente diplomático. O ministério da tutela que barafustasse contra a China. Faltou insinuar que a ausência do hino era uma orquestração dos chineses, vingança soez para não se voltar a escutar aquele hino em Macau.
Não sei se será da idade que vai assentando em seus sedimentos, ou se é por não andar longe de me ver apátrida, mas o episódio soa a tempestade em copo de água. Vamos admitir, por uma vez, que somos todos nacionalistas até ao tutano. Que temos orgulho na portugalidade que é nossa pertença, ou identidade (conforme os gostos). Um hino é apenas um hino. Um símbolo. Um hino não dá de comer a ninguém. E se, numa competição desportiva no estrangeiro, a banda sonora de hinos não foi apetrechada com o hino lusitano, desdramatizemos. Terá sido esquecimento. Por que haveremos de meter pela esquina das complicações e tirar conclusões precipitadas?
Aos que ficaram escandalizados com o “incidente”, não sei se serve de conforto anunciar que os pilotos de automóveis com lusitana nacionalidade não costumam figurar entre os candidatos a triunfos. Se a desculpa mal amanhada não servir de consolo, não se entonteçam com o esplendor do hino. Já repararam nas estrofes que o compõem? Levam aquela lengalenga a sério? A sério que levam? Ah, estão a dizer que a lengalenga não é para ser levada à letra. Que as estrofes do hino encerram um simbolismo. Quase sagrado, falta-vos dizer. Ainda bem que estamos de acordo. Um simbolismo é um simbolismo. Se subtraírem a deificação do hino, ficam com um grande nada entre mãos. A grandeza de uma pátria (assunto que tanto vos interessa) faz-se de pessoas – e das vivas. Os símbolos e o passado não têm serventia.
Um código de conduta vos aconselho: se não nos levarmos tão a sério, não há cabimento a ofensas destas. Nem à azia que sobeja.  

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