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Um jovem piloto de automóveis,
nacionalidade portuguesa, vence uma corrida importante em Macau. Uma vez no
pódio, não havia hino nacional para celebrar a grandeza pátria (ou seria a
proeza do piloto?). Os amigos do rapaz é que entoaram a cançoneta. A muitos
milhares de quilómetros, na terra que consagrou o hino, a proeza desportiva não
foi notícia; notícia foi o hino ausente. Alguns protestaram. Ofendidos com a desfeita,
sentenciam: é um incidente diplomático. O ministério da tutela que barafustasse
contra a China. Faltou insinuar que a ausência do hino era uma orquestração dos
chineses, vingança soez para não se voltar a escutar aquele hino em Macau.
Não sei se será da idade que vai
assentando em seus sedimentos, ou se é por não andar longe de me ver apátrida,
mas o episódio soa a tempestade em copo de água. Vamos admitir, por uma vez,
que somos todos nacionalistas até ao tutano. Que temos orgulho na portugalidade
que é nossa pertença, ou identidade (conforme os gostos). Um hino é apenas um
hino. Um símbolo. Um hino não dá de comer a ninguém. E se, numa competição
desportiva no estrangeiro, a banda sonora de hinos não foi apetrechada com o
hino lusitano, desdramatizemos. Terá sido esquecimento. Por que haveremos de
meter pela esquina das complicações e tirar conclusões precipitadas?
Aos que ficaram escandalizados com o “incidente”,
não sei se serve de conforto anunciar que os pilotos de automóveis com lusitana
nacionalidade não costumam figurar entre os candidatos a triunfos. Se a
desculpa mal amanhada não servir de consolo, não se entonteçam com o esplendor
do hino. Já repararam nas estrofes que o compõem? Levam aquela lengalenga a
sério? A sério que levam? Ah, estão a dizer que a lengalenga não é para ser
levada à letra. Que as estrofes do hino encerram um simbolismo. Quase sagrado,
falta-vos dizer. Ainda bem que estamos de acordo. Um simbolismo é um
simbolismo. Se subtraírem a deificação do hino, ficam com um grande nada entre mãos.
A grandeza de uma pátria (assunto que tanto vos interessa) faz-se de pessoas – e
das vivas. Os símbolos e o passado não têm serventia.
Um código de conduta vos aconselho: se
não nos levarmos tão a sério, não há cabimento a ofensas destas. Nem à azia que
sobeja.
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