27.11.12

Cores desmaiadas


In http://alemdovinho.files.wordpress.com/2010/05/outono-21.jpg?w=510
O compasso do olhar impunha-se sobre as cores. Viera dos esverdeados marítimos, onde a humidade sussurra sobre a vegetação que se adestra a preceito. Mas os montes chegavam, a altitude subia mais junto do céu, e as árvores deitavam-se no solo pedregoso e seco. A folhagem era diferente. As cores, num assomo de pretéritos e desatentos olhares, dir-se-ia serem desmaiadas.
Um esboço outonal. Muita gente diz que é o leito da melancolia. As cores acastanhadas veem enlaçadas com o céu habitualmente plúmbeo que dita os dias outonais. Mas os sentidos acobertam-se nas feições. Podem os dias assim não ser da vivacidade celeste quando a primavera se apodera da clepsidra. E podem as convenções ser um engodo que atraiçoa os sentidos. O olhar detém-se na paisagem. Na mancha que, assim ditam as primeiras impressões, galvaniza a monocromia acastanhada. Mas depois os olhos habituam-se. Redescobrem um sortilégio, o sortilégio que estava ocultado. Decifram os enigmas das diferentes tonalidades encavalitadas na paisagem. O acobreado, o castanho já escurecido, o alaranjado, as várias tonalidades avermelhadas. As diferentes camadas que compõem a paisagem.
As cores não são desmaiadas. São uma paleta garrida, decantando a luminosidade esvaída que perfura o céu de estanho. É o céu orquestrado pela espessura do estanho que empresta a singularidade às cores que o olhar desatento se apressaria a ruminar como desmaiadas. Incendeiam o fogo de uma floresta que se prepara para a hibernação invernal. Anuncia-se o clima glacial, os ramos das árvores já nus tomados pela neve que vier às altitudes que a tal se emprestam. 
As folhas caducam, inteligentes. Desembaraçam as árvores – como se diria das cores que, nas suas múltiplas tonalidades acastanhadas, se desembaraçam da vivacidade? Não. Os ramos das árvores são carnudos, uma pele espessa que sabe domar o frio que vier. Como as cores outonais, desembainhando a aparência tristonha da paisagem, são como um avental de policromias que resguardam os sorrisos escondidos.

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