O compasso do olhar impunha-se sobre as
cores. Viera dos esverdeados marítimos, onde a humidade sussurra sobre a
vegetação que se adestra a preceito. Mas os montes chegavam, a altitude subia
mais junto do céu, e as árvores deitavam-se no solo pedregoso e seco. A
folhagem era diferente. As cores, num assomo de pretéritos e desatentos
olhares, dir-se-ia serem desmaiadas.
Um esboço outonal. Muita gente diz que
é o leito da melancolia. As cores acastanhadas veem enlaçadas com o céu
habitualmente plúmbeo que dita os dias outonais. Mas os sentidos acobertam-se
nas feições. Podem os dias assim não ser da vivacidade celeste quando a
primavera se apodera da clepsidra. E podem as convenções ser um engodo que
atraiçoa os sentidos. O olhar detém-se na paisagem. Na mancha que, assim ditam
as primeiras impressões, galvaniza a monocromia acastanhada. Mas depois os
olhos habituam-se. Redescobrem um sortilégio, o sortilégio que estava ocultado.
Decifram os enigmas das diferentes tonalidades encavalitadas na paisagem. O
acobreado, o castanho já escurecido, o alaranjado, as várias tonalidades
avermelhadas. As diferentes camadas que compõem a paisagem.
As cores não são desmaiadas. São uma
paleta garrida, decantando a luminosidade esvaída que perfura o céu de estanho.
É o céu orquestrado pela espessura do estanho que empresta a singularidade às
cores que o olhar desatento se apressaria a ruminar como desmaiadas. Incendeiam
o fogo de uma floresta que se prepara para a hibernação invernal. Anuncia-se o
clima glacial, os ramos das árvores já nus tomados pela neve que vier às
altitudes que a tal se emprestam.
As folhas caducam, inteligentes. Desembaraçam
as árvores – como se diria das cores que, nas suas múltiplas tonalidades
acastanhadas, se desembaraçam da vivacidade? Não. Os ramos das árvores são
carnudos, uma pele espessa que sabe domar o frio que vier. Como as cores
outonais, desembainhando a aparência tristonha da paisagem, são como um avental
de policromias que resguardam os sorrisos escondidos.
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