16.11.12

Estado de exceção


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Artes permeáveis à política, ou à ideologia que serve de pano de fundo à política. Há quem aceite a cumplicidade. Argumentam que as artes são apenas uma manifestação da política. Instrumentalizam as artes quando certas lutas políticas as convocam para as trincheiras. Mas, depois, as artes não ficam tingidas pela instrumentalização política? Serão artes menores? É aí que a subjetividade entra em campo. Os que militam numa ideologia que merece loas em forma de arte desfazem-se em elogios. Os de campos contrários, incomodados com o mimetismo que soa a areia nos ouvidos, depreciam a manifestação artística. Poucos se conseguem desligar dos catrapázios ideológicos para reconhecerem uma obra de arte contaminada por política. Não se pode redigir uma regra que se aplique às artes, seja para banir a política das artes, seja para fazer uma lei de bronze das artes normalmente tomadas pela política. Consumimos o que queremos. Rejeitamos o que não gostamos. Declinamos obras de arte que sabemos (pela crítica) estarem tão contaminadas por uma ideologia que se confundem com exibições panfletárias. Se há quem se encante com as artes a abrirem a janela à política (ou a política a pisar terrenos das artes), é de sua soberania afinar a estética em conformidade. Haja, ao menos, abertura intelectual quando aparecem antipáticas reações. Era o que mais faltava as artes sofrerem outra contaminação – a do objetivismo. A derradeira colonização das artes por um determinado pensamento seria o seu estertor. Os tempos difíceis põem-se a jeito de um aluvião de criação artística aberta à politização. Os dramas que se vivem, as histórias angustiantes que vêm na cauda da austeridade, os protestos que montam na garganta da violência, a retórica de boca em boca contra os banqueiros e os ricos em geral, a ressurreição de Marx e da luta de classes – tudo é o campo fértil para novas obras de arte que se atiram furiosamente contra o establishment (ou para o regresso aos artistas que andaram de braço dado com ideologias tangentes). O que está fora do horizonte é uma pedagogia do chamado “neoliberalismo” para uma arte sua panegírica. Dizem que seria enfadonha. Ainda antes de a conhecerem. Ai, a coerência.  

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