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Artes permeáveis à política, ou à
ideologia que serve de pano de fundo à política. Há quem aceite a cumplicidade.
Argumentam que as artes são apenas uma manifestação da política. Instrumentalizam
as artes quando certas lutas políticas as convocam para as trincheiras. Mas,
depois, as artes não ficam tingidas pela instrumentalização política? Serão
artes menores? É aí que a subjetividade entra em campo. Os que militam numa
ideologia que merece loas em forma de arte desfazem-se em elogios. Os de campos
contrários, incomodados com o mimetismo que soa a areia nos ouvidos, depreciam
a manifestação artística. Poucos se conseguem desligar dos catrapázios
ideológicos para reconhecerem uma obra de arte contaminada por política. Não se
pode redigir uma regra que se aplique às artes, seja para banir a política das
artes, seja para fazer uma lei de bronze das artes normalmente tomadas pela
política. Consumimos o que queremos. Rejeitamos o que não gostamos. Declinamos
obras de arte que sabemos (pela crítica) estarem tão contaminadas por uma
ideologia que se confundem com exibições panfletárias. Se há quem se encante
com as artes a abrirem a janela à política (ou a política a pisar terrenos das
artes), é de sua soberania afinar a estética em conformidade. Haja, ao menos,
abertura intelectual quando aparecem antipáticas reações. Era o que mais
faltava as artes sofrerem outra contaminação – a do objetivismo. A derradeira
colonização das artes por um determinado pensamento seria o seu estertor. Os
tempos difíceis põem-se a jeito de um aluvião de criação artística aberta à
politização. Os dramas que se vivem, as histórias angustiantes que vêm na cauda
da austeridade, os protestos que montam na garganta da violência, a retórica de
boca em boca contra os banqueiros e os ricos em geral, a ressurreição de Marx e
da luta de classes – tudo é o campo fértil para novas obras de arte que se
atiram furiosamente contra o establishment
(ou para o regresso aos artistas que andaram de braço dado com ideologias
tangentes). O que está fora do horizonte é uma pedagogia do chamado
“neoliberalismo” para uma arte sua panegírica. Dizem que seria enfadonha. Ainda
antes de a conhecerem. Ai, a coerência.
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