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Será que sua excelência anda afónico? Faz
tempo que não lhe ouvimos a voz ansiolítica nem lhe vemos a pose seráfica. Nem
sequer através de recados mandados para os jornais (exceção a uma entrevista a
um jornal espanhol, onde mandou os recados que não tem coragem de dizer na
paróquia a que preside). Emudeceu. Pela parte que me toca, é quando mais gosto
de o ouvir. Ao menos não disparata. Mas os comentadores, com o senador Soares
em pose pomposa a encabeçar o cortejo, exigem que Cavaco atue. Querem que
Cavaco puxe as orelhas ao governo (versão simpática), ou que o ponha na ordem
(eufemismo para demissão). Outros pretendem que Cavaco tenha saudades da
fatiota catedrática e se esqueça que é presidente de uma república cadente,
puxando os galões do “mais conceituado economista da pátria”, só para chamar ao
gabinete o ministro das finanças e lhe lembrar as lições dos seus calhamaços. É
sentença nesses calhamaços: com a crise que há, não se deve cortar na despesa
pública nem insistir tanto no desendividamento. Ora, na pele de um dos “mais
conceituados economistas da pátria” em geral, e do mundo em particular
(qualquer taxista o diria), Cavaco devia reensinar as lições da economia ao
ministro das finanças. Não interessa que sejam lições démodé, bafientas. Ninguém notava que metesse o bedelho onde não é
chamado, pois se o governo é inepto, venha Cavaco, o providencial, tapar os
buracos – exigem, sobretudo, os que nem sequer votaram em Cavaco para
presidente. Outros, mais cínicos, insinuam que o silêncio de Cavaco é uma
armadilha que está a ser montada. Ele está à espera do momento certo para dar a
estocada fatal no governo. Para ficar com o nome debruado a ouro na história da
democracia que há (sobretudo para alguns inesperados admiradores de esquerdas).
Tenho hipótese alternativa: Cavaco anda calado porque se engasgou com uma fatia
de bolo rei que abocanhou alarvemente. O engasganço emudeceu-o. Para bem de
muitos ouvidos.
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