14.11.12

Moratória para quê?


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Falam de adiamentos. Porque ainda não é tempo de ser o tempo certo. O fio condutor entrelaça-se num presente que se dilata em amanhãs incertos. Amanhãs que não passam de promessas. À medida que as procrastinações espreitam nos ramos das árvores, é todo um vazio que preenche o olhar, os sentimentos desfigurados por um bola de fogo descolorida. E porque se acanham os sentidos em moratórias que se escondem na moderação? Que nos precatemos, dizem os tementes das decisões, que nos precatemos que os passos em falso podem ser um fadário das cicatrizes irreparáveis. Mas é aí que entra o tempo. O tempo na sua dimensão escassa. Ele não contemporiza as dilações dos peões da indecisão. Esvai-se, o tempo, e os dedos não o podem deter. Ainda acreditamos que as moratórias são imperativas? Ainda acreditamos que os corpos embutidos na inércia são reféns da preguiça dos atos que interessam? Por mais que estendamos os dias dos adiamentos, mais se estreita o túnel do tempo. Corremos um risco: de repente, sem aviso, o tempo pode fugir debaixo dos pés. Ficamos sem ele e já não interessa se estamos presos aos adiamentos que deixaram (quase) tudo por fazer. Sobra o pressentimento das deliberações inadiáveis. Um olhar que não se intimida diante da resplandecência do sol, ou das nuvens medonhas que carregam tempestades. Ser é um constante tirocínio. Ou acham os néscios que as sucessivas folhas do calendário emprestam lucidez a cobro de erros? É aí que se resguarda a grandeza de ser: vamos até ao derradeiro apeadeiro com o peito aberto aos desacertos. Era o que mais faltava sermos possuídos pela covardia de não querer errar. Só quem não tem a coragem dos atos reclama o inútil troféu dos transgressões que não ataviaram o caminho. Depois, sobram arrependimentos. Dos arrependimentos do que houvera existido, não fosse a covardia das moratórias.

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