7.2.17

Bilhetes do tesouro


Spoon, “Do You”, in https://www.youtube.com/watch?v=fd6aXM8WHGw    
Razoavelmente discricionário nos intentos desenhados para a tela posterior. Não fazia sentido de outro modo. Por mais que as nuvens sombrias quisessem locupletar o horizonte, vertendo uma tela de desânimo que sobressaltava o sono prometido, uma teimosa centelha de otimismo continuava acesa num sítio recôndito. Era como se as más notícias que campeavam, elas também numa teimosia irrecusável, fizessem parte de uma conspiração contra os bons propósitos da vida, das vidas.
Não adiantava medrar em chão tão viperino. E se alguém contrapusesse que teimar na existência de uma conspiração, como móbil que descerrava a tela que escondia um mal tão transversal a tudo, era um ato de negação, diria que esses fautores se escondiam da saudável avenida que devia ser percorrida pelas suas existências. Num braço de ferro entre teimosos (os que queriam, a toda a força, um ambiente de negrume sem escapatória; e os que insistiam que todos os males eram aparências ditadas por conspiradores que, desse modo, tomavam conta da vontade dos crédulos), continuava a admitir um brilho que resplandecia da aurora boreal, nem que apenas os seus olhos fossem testemunhas dessa aurora quimérica.
No processo em curso, e em plena dialética, lidava com alguns que queriam desistir do esmorecimento incorrigível. Ele não ousava conselhos (sempre fora avesso ao papel de conselheiro). Nem sequer admitia partilhar a sua experiência. Não contava como se tinha extraído do fundo de um poço, que julgava sua irremediável sepultura, e agora ostentava um garbo invejável, como era possível dos seus olhos irradiar uma sede que só a fruição plena da vida conseguia saciar. Era caução de uma experiência irrepetível.
Os maus espíritos, por sua vez, desconfiados como é sua linhagem, sondavam-no incessantemente com fantasmas bolçados, dúvidas atiradas para cima de dúvidas, um princípio geral de desconfiança, o a apoplexia de precipício constante quase a ser franqueado. Queriam demovê-lo do olhar conspícuo sobre tudo o que lhe dizia respeito (que passara a ser metodicamente mais, em qualidade, depois de realinhados os quadrantes). Eram-lhe indiferentes os maus espíritos. Não transigia na acomodação das ameaças subliminares que deixavam a pairar no ar. O seu olhar majestoso sobre as coisas importantes do mundo não albergava espaço para os fracos de espírito.

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