Cave Story, “Southern Hype”
(ao vivo da Vodafone FM), in https://www.youtube.com/watch?v=0VlfnksU--g
Insistia em protestar que ele não
podia dizer que nunca a deixaria desiludida. Em matéria de promessas, as juras
eram um cardápio exigente, uma terrível areia movediça que não interessava percorrer.
Em sendo a jura desalicerçada, sobrariam intensos motivos de angústia. Uma dor
reproduzida em ambos. Contundente, se por acaso as baias da deceção tivessem
foros de coisa grave. Ela advertia:
-
Não será sensato querer atravessar tamanho Rubicão.
Ele
ficou em silêncio, como se de repente se desinteressasse pela conversa. Ela ficou
sem saber se fora propositado, ou se usara uma eloquência que não estava ao
alcance dele. Logo no dia seguinte, pela manhã cedo, depois de uma ida ao
dicionário fez-se luz sobre o significado de Rubicão. Ele soube que se tratava
de um obstáculo de difícil superação.
-
Da próxima vez vou voltar ao assunto – e vou mostrar que também sei o que é o
Rubicão, interiorizou,
em jeito de auto desafio.
Parecia
importante não dar parte de fraco. Já sabia que pedia meças à erudição dela,
mas não queria arrostar com o epíteto de apedeuta (outra palavra que encontrou
no dicionário como significado de ignorante). Sem que a conversa demorasse,
voltaram a estar juntos depois do jantar, nesse mesmo dia. Ele atirou, sem
demora:
-
Não me conheces como julgas. Eu gosto de desafios. Motivam-me. Se quiseres, sou
capaz de te contar alguns casos em que fui capaz de me superar com o incentivo
de um desafio que, à partida, parecia insuperável.
Ela,
perplexa com tamanho arrazoado, disparado a uma velocidade vertiginosa – o discurso
soava a tirocínio bem artilhado –, e sem saber ao que ele vinha, contrapôs:
-
Não duvido das proezas dos outros. Tão-pouco me interessa apurar se
correspondem, ou se são ilusões em que medram seus fautores. Em todo o caso, se
me quiseres informar sobre a matéria sobre que versa a tua proclamação
anterior, estás à vontade e toma o palco.
-
Ora, sabes bem. Regresso à nossa conversa anterior. Quando tu me acusavas de
arriscar atravessar um Rubicão que, insinuaste, não estava ao meu alcance.
-
Ah, é isso! Então como vais fazer para saltar para a outra margem?
E
ele, mergulhando na confissão das suas parcas capacidades, soltou resposta que,
de tão insólita (negativamente insólita), deitou uma pedra sobre a conversa naquela
noite:
-
Vou ao dicionário. Não me apanhas na curva!
A
conversa regressou ao ponto de partida (da conversa anterior): ela bem podia insistir
que ele não podia dizer que nunca a deixaria desiludida. A prova procedia das
palavras que ele acabara de proferir.
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