Ty Segall, “Break a Guitar”
(live on KCRW), in https://www.youtube.com/watch?v=qlrmCc0oGeM
Uma coleção de pedras, das
pontiagudas, para atirar às vidraças que apetecer, quando a má disposição precisar
de ser depurada. O vocabulário destrambelhado nos momentos em que ele é menos
necessário. Fazer o contrário daquilo que os outros estão à espera. Odiar as
coisas adoradas pela turba e adorar as outras, desprezadas pela maioria. Não ajudar
velhinhas a atravessar a passadeira. Desdenhar de todos os protocolos.
Dormir de dia. Deixar o trabalho para
os outros, tão diligentemente assoberbados em darem um quinhão para o “bem
comum”. Atravessar o rubicão da maldade, apenas como forma de provocação (que não
têm gosto particular em praticar a maldade). Roubar os frutos ainda verdes. Tirar
da ideia a bazófia de serem os modernos Robin dos Bosques. Hastear uma bandeira
negra em lugar de todas as bandeiras nacionais encontradas tristemente a
vacilar ao vento madraço. Escrever uns pregões arrevesados e ininteligíveis nas
paredes de empresas multinacionais. E, logo a seguir, espalhar a confusão numa
manifestação de protesto convocada por anarquistas, mesmo correndo o risco de
serem apodados de fascistas, só porque a desonestidade intelectual lhes causa
espécie.
É quando começam a ser anjos
escondidos. Sovam o empregado do café que aldrabou os turistas no troco. Sovam
o dono do café que quer partilhar o pecúlio das patranhas metidas aos inocentes
turistas. Sovam um turista que olha com desdém para um mendigo. Sovam um
mendigo que maltratou um cão vadio. Metem pregos na cadeira da esplanada que
vai ser ocupada pela senhora dondoca, depois de ela ter arrogantemente ordenado
algo ao moço do café. Desaprovam os escritos clandestinos que supõem uma
rebeldia apenas artificial. Deitam lume aos jornais acríticos que estão quase a
ir para os escaparates. Sabotam o sinal das televisões que teimam em emitir lixo
em direto. Depois de amordaçarem dois seguranças do pavilhão do clube da terra,
mandam três petardos nauseabundos para o interior só para incomodar a soberba
dos adeptos. Adulteram a ementa afixada no exterior de um restaurante todo
catita, com-estrelas-Michelin-e-tudo, num exercício de reinvenção gastronómica.
Aplaudem a coreografia dos residentes do manicómio que estão em visita à baixa
da cidade. Desviam o pé-de-meia das caixas de esmolas das igrejas da cidade em
favor do manicómio; proclamam que é ali que se produz cultura em estado puro.
Candidatam-se, por iniciativa própria,
a uma estadia (nada artística) no manicómio.
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