22.2.17

Direito geral à imaginação


Sleaford Mods, “TCR”, in https://www.youtube.com/watch?v=KT2mLi7ldew    
Que não se esqueçam de registar em letra de lei o direito geral à imaginação. E de cominar com o mais alto crime, passível de pena a preceito, todas as intrusões na imaginação alheia, todos os atos que a queiram silenciar. Se não for exortação desmedida, que não se esqueçam de atirar o direito geral à imaginação para os direitos de mais alta estirpe, os que pertencem ao catálogo dos direitos constitucionais.
Pois o direito geral à imaginação é tangente aos direitos mais básicos de qualquer pessoa, como se fosse tão importante como o gesto básico da respiração, ou a congeminação articulada das células e das bactérias que vivem alojadas dentro do corpo humano, ou das sinapses que atuam em favor do pensamento. O direito geral à imaginação é a fruição da existência no sentido pleno, sem as algemas maquinadas do exterior, sem ter de esbarrar em ameias com porosidades que magoam a pele das mãos quando as mãos a elas se tentam agarrar. O direito geral à imaginação é todo o céu despejado em frente dos olhos, para depois ser preenchido com a tela que cada olhar dispuser. Rima com a afluência das palavras que vierem a terreiro a propósito de um tema, sem constrangimentos sobre o seu uso, sem limites para o seu desenho em cima de uma folha em branco.
Através do direito geral à imaginação, temos o direito de ensaiar teatros por dentro do pensamento, de imaginar os palcos diligentes, as personagens pertencentes, talvez até a fusão entre o autor que é narrador e que também pode encarnar um papel. Temos o direito de nos supormos viajantes em destinos improváveis, de experimentar os lugares exóticos que só conhecemos das imagens reproduzidas, de nos levantarmos até ao mais alto púlpito de onde se alcançam as mais honrosas realizações. Ou então, podemos usar o direito geral à imaginação para mais modestos propósitos, sem o olhar temente aos juízos que vêm do exterior, se o ensimesmar que eflui ditar o desdém do que é exterior ao fautor da imaginação.
Com o direito geral à imaginação, temos na ponta dos dedos as ferramentas para a liberdade sublime. A franquia para soltar os estréns ao pensamento, sem receio que ele perca a sua validade. Pois é através do direito geral à imaginação que somos ilhas frutíferas, essência maior de cada ser sem as peias bolçadas pela presunção dos outros.

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