Pond, “30.000 Megatons”, in
https://www.youtube.com/watch?v=3EQPsCbmgkk
Sabia das terras improfícuas, algures
em mapa longínquo. Dizia-se que eram de ninguém. Baldios que precisavam de presença.
A exiguidade do lugar nascente
funcionava como uma espada afiada sobre o pescoço. Parecia que o oxigénio era
rarefeito. Parecia que as pessoas se atropelavam umas às outras e todas eram
conhecidas de todas e que todas exerciam uma esclavagista vigilância sobre as
demais. Queria apoderar-se de um pedaço de terra que não fosse de ninguém. Sem fazer
tábua-rasa das leis, nem menosprezar os registos que sobre as terras dispunham.
Para o efeito, sabia que teria de ser nómada. Talvez nómada de si mesmo. Desprender-se
dos freios que eram marca identitária. Desapossar-se dos haveres, por não os
poder acautelar desde as longínquas paragens que se preparava para indagar.
Teria de desembrulhar um mapa por
fazer, meter-lhe os limites e as coordenadas que seriam sua embocadura. No fundo,
fazer um pouco como os ancestrais conquistadores – com a diferença que agora
tudo era conhecido e não havia exaustão de meios que transgredissem o
conhecimento da paisagem. Não interessava que o lugar fosse inóspito, ou
exposto a um clima intransigente. Os horizontes emancipam-se quando o olhar se
predispõe a sair das suas baias. É um processo em que nunca se fica a perder;
na pior das hipóteses, os ganhos podem ser ausentes.
Os mais sedentários, puxando lustro
aos compêndios conservadores, advertiam que partia à aventura, que a mesma se
podia saldar por uma mão cheia de nada e que, nessa medida, perdia o que já
tinha como adquirido. Ripostou: não dava nada como adquirido e o que eles assim
consideravam era um paredão estéril onde não havia vivalma. Precisava dos
baldios, algures. Precisava de meter as mãos na terra por arrotear. Precisava de
saber dos deslimites, para não vaguear na indiferença de si mesmo.
Estava decidido. Amanhã partiria, sem
haveres a não ser os imprescindíveis, para tomar posse de uns baldios por
mapear. Não sabia quando chegaria. Não sabia aonde chegaria. Sabia que era preciso
arrematar a cartografia dos baldios. Nem que fosse, apenas, para legar um mapa
que fosse ferramenta para os vindouros.
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