Acid Arab feat. Cem Yildiz,
“Stil”, in https://www.youtube.com/watch?v=5UFo2mVxAjA
Não sei se as luas se embaciaram, ou
se há grãos de areia por dentro dos olhos. Não sei se as coisas perpétuas
perderam validade. Talvez seja apenas um vento malnascido que persevera em não
aterrar, ou uma fogueira teimosa que previne o atear do fogo à força de alguma
misteriosa força conspiradora. Prefiro mantê-lo assim: as coisas perpétuas
nunca perdem validade.
Aos porquês que sobejam no fogaréu das
impaciências, não vejo respostas possíveis no fio do horizonte. Não haverá
grande mal na persistência das hipóteses nascentes, das hipóteses que não
chegam a levantar os pés do chão à conta de tanta tergiversação. Ao olhar vem a
imagem de uma certa contumácia, como se nas capitulações fossemos sibilinos
cultores da maior das inteligências. Mas as mãos frias despedaçam o coração que
decai num arrefecimento. As mãos frias não são complacentes. Não que esteja à
espera de complacência apenas como sinal da necessária comiseração; se assim
fosse, teria de prescrever a própria fragilidade, com todos os argumentos
escalados a esboroarem ao mais pequeno abalo das terras.
A indulgência é precisa como ato que
custeia a meias as dores sentidas num certo momento. À parte outras iras, e porventura
uma irreprimível teimosia de manter o que julgo justo (teimosia que não consigo
aparar), não hasteio os estandartes da conflagração gratuita. Às vezes, questiono
se assim é. E mergulho nos enredos em que me emaranho na posse de um escafandro
que permita um módico de respiração na imersão lenticular.
Tenho em mãos um dardo que me pede
para ser atirado com força, para o mais longe que consiga alcançar. Sei que o
dardo é insalubre. Sei que o exercício da força no arremesso do dardo é um
exercício espúrio. E, todavia, não consigo deitar fora o dardo, mesmo
sentindo-o febril nas mãos, pronto a contaminá-las com a mesma febre. Não fui
eu que pedi o dardo. E tudo o que quero, neste momento, é aliviar-me do dardo e
não ter de me interrogar onde seria a aterragem do dardo caso o viesse a
dardejar. Tudo o que quero, é aliviar-me do dardo sem o ter de atirar.
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