27.2.17

Se atirasse o dardo com força, onde cairia?


Acid Arab feat. Cem Yildiz, “Stil”, in https://www.youtube.com/watch?v=5UFo2mVxAjA    
Não sei se as luas se embaciaram, ou se há grãos de areia por dentro dos olhos. Não sei se as coisas perpétuas perderam validade. Talvez seja apenas um vento malnascido que persevera em não aterrar, ou uma fogueira teimosa que previne o atear do fogo à força de alguma misteriosa força conspiradora. Prefiro mantê-lo assim: as coisas perpétuas nunca perdem validade.
Aos porquês que sobejam no fogaréu das impaciências, não vejo respostas possíveis no fio do horizonte. Não haverá grande mal na persistência das hipóteses nascentes, das hipóteses que não chegam a levantar os pés do chão à conta de tanta tergiversação. Ao olhar vem a imagem de uma certa contumácia, como se nas capitulações fossemos sibilinos cultores da maior das inteligências. Mas as mãos frias despedaçam o coração que decai num arrefecimento. As mãos frias não são complacentes. Não que esteja à espera de complacência apenas como sinal da necessária comiseração; se assim fosse, teria de prescrever a própria fragilidade, com todos os argumentos escalados a esboroarem ao mais pequeno abalo das terras.
A indulgência é precisa como ato que custeia a meias as dores sentidas num certo momento. À parte outras iras, e porventura uma irreprimível teimosia de manter o que julgo justo (teimosia que não consigo aparar), não hasteio os estandartes da conflagração gratuita. Às vezes, questiono se assim é. E mergulho nos enredos em que me emaranho na posse de um escafandro que permita um módico de respiração na imersão lenticular.
Tenho em mãos um dardo que me pede para ser atirado com força, para o mais longe que consiga alcançar. Sei que o dardo é insalubre. Sei que o exercício da força no arremesso do dardo é um exercício espúrio. E, todavia, não consigo deitar fora o dardo, mesmo sentindo-o febril nas mãos, pronto a contaminá-las com a mesma febre. Não fui eu que pedi o dardo. E tudo o que quero, neste momento, é aliviar-me do dardo e não ter de me interrogar onde seria a aterragem do dardo caso o viesse a dardejar. Tudo o que quero, é aliviar-me do dardo sem o ter de atirar.

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