Moderat, “Last Time” (live in Berlin), in https://www.youtube.com/watch?v=9VRqjUibcaA
O medo tomando forma. Um vulto que nasce do nada, ou um terramoto que se abate, sem aviso, sobre o rosto virado de frente para o epicentro das coisas terríveis. Um frio gélido percorre a espinha. A respiração faz-se com dor. O sobressalto contínuo empola o pensamento onde nidificam maus presságios. É um pano de pessimismo, o que se abate sobre o chão de que é feita a paisagem. A origem do medo atua em câmara lenta, como se fosse preciso prolongar a agonia. A maldição do medo cavalga num leito fácil. O próprio medo alimenta-se de mais medo, numa espiral interminável. O medo que veio de um quase nada, a certa altura é já uma montanha de medos que se precipita no seu alcantilado vagar. As emendas prometidas outrora não tiveram o efeito pretendido: o medo continua a adejar, indiferente à inquietação que dissolve o sono a ruínas sem préstimo. A respiração continua a doer. Os arrepios como que paralisam os membros, deixam o pensamento sitiado por uma inércia aflitiva. Da mesma inércia que é o ingrediente preferido do medo. Às voltas com este labirinto, torna-se quase impossível romper com o ciclo vicioso. Não há medicamento que tenha vencimento. Não há perito que prescreva metodologia capaz. Antes que seja tarde, e o medo tome por dentro todo o corpo e todo o pensamento, um derradeiro discernimento: o medo derrota-se a partir de dentro, onde se encontram os antídotos necessários. Pode ser difícil encontrá-los. Sem esse desmedo, não convergem as forças no sentido de aplacar os medos dominantes. Talvez seja preciso encontrar um veneno que seja veneno para o próprio medo acutilante. Pois o medo não espera, do alto da sua sobranceria, que a vítima use do mesmo veneno que é usado pelo medo no assalto à vítima. O desmedo remete o medo para o esquecimento. E a vontade volta a ser imperatriz, mal se desembarace dos medos. Até que o único medo sindicável seja o medo de ter medos.
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