13.8.18

Etiqueta vermelha: aviso do fim de prazo de validade (short stories #7)


Tricky, “Aftermath”, in https://www.youtube.com/watch?v=25y3cMC9i94
          Como nos iogurtes quase fora do prazo: uma etiqueta vermelha informa a ocorrência (e determina o preço de saldo). É voz corrente que os estabelecimentos comerciais se precavem (e acautelam os consumidores), pois a vida útil das mercadorias estende-se para além do prazo de validade. Peca por defeito – ou uma espécie de rede de segurança com margem para prevenir fatalidades. Corre à boca pequena que não faz mal se as mercadorias forem consumidas depois de atingido o prazo de validade; falta saber qual é a margem de segurança depois de expirado o prazo de validade – falta saber a partir de quando a mercadoria se deteriora e a saúde pública passa a correr riscos. Talvez seja assim com as pessoas. Ninguém lhes pespega uma etiqueta vermelha – e muito menos se pensa em atribuir preços que correspondam ao seu valor venal. Com uma agravante: quem arrisca o precipício da prescrição é o último a reconhecê-lo. E outra: passado o prazo de validade, cai-se na decadência irremediável. Não faltam espelhos aptos a advertir a aproximação do termo da validade. Só que esses espelhos estão disponíveis para os outros, sobretudo para os que decretam o fim da validade de outrem. Aos próprios, tais espelhos (como o reconhecimento do termo da validade) é um lugar ermo, inacessível. (Com raras exceções.) Males destes acontecem sempre aos outros. Somos os últimos a admitir que connosco se pode passar o mesmo. Quando damos conta, não vamos a tempo de retroceder. Pode ser que ainda haja validade para além do fim do prazo de validade. E que este prazo tenha sido definido antes do tempo. Não custa instruir a esperança.

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