3.8.18

A faca de dois gumes (short stories #1)


Rhye, “Song For You”, in https://www.youtube.com/watch?v=No9CLpAI1aI
          Cara ou coroa. Sem ponto de interrogação. Não há lugar à tergiversação. Ou é cara, ou é coroa. Ao acaso ficará o critério. Não se sabe o que está escondido – nem na cara, nem na coroa. Do revólver desarmadilhado sobram as munições. Podia-se pesar e medir e saber da temperatura das munições como presságio do que seria se cara ou coroa tivesse sido a escolha. Recusada a empreitada, prossegue a demanda. Descobre-se a existência de facas que têm gume nas duas extremidades. Facas sem coldre. Facas terrivelmente assassinas. Ou até suicidas, pois a ausência de coldre, e a exposição dos gumes em ambas as extremidades, pode ferir, e fatalmente, quem empunhar a faca de dois gumes. Há quem não se intimide. A desorganização reinante é a má caução da insegurança (argumentam). Uma arma, é só uma arma de defesa. Se todos pensassem deste modo, ninguém precisava de facas (de um ou de dois gumes). Ninguém era agressor. Alguns agressores defendem a honra: tornaram-se agressores porque as circunstâncias jogaram a seu desfavor. Foram empurrados para a agressão do outro, o único meio de restaurarem um certo sentido de justiça (da justiça aparelhada pela sua subjetiva visão). Às vezes, o agressor é o próprio que se apetrecha da faca de dois gumes para se defender. É uma questão de cara ou coroa. Ser agressor, ou defender-se de um agressor; ou perpetrar em si mesmo a agressão na imoderada restrição contra as agressões outras. A cara também pode ser coroa, sem que se saiba.

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