Nine Inch Nails ft. David Bowie, “Hurt” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=c7_Te7iDojA
Destroços sem utilidade. Perduram no porvir o que remanesce em forma de ruína. Os petizes, ainda não educados para a validade dos despojos do tempo, perguntam por que as ruínas não são destruídas para darem lugar às modernas edificações que enxameiam as cidades. Há mais velhos com o mesmo desejo. A propaganda da avareza, visível em tais desmandos, não se sabe se é apenas um frémito da abastança ou o selo da ignorância. Empreiteiros, arquitetos, ascetas da modernidade, alguns políticos devidamente assinalados, petizes ainda impreparados – todos são a peanha que não entende as palavras das ruínas com propósito. Não são ruínas como todas as ruínas. Não são um mostruário de decadência, mesmo que sobejem de eras que foram de opulência e depois acabaram consumidas pela decadência. São ruínas monumento. Um pedaço de História que alcança o tempo presente, como se o tempo pretérito fosse transportado até hoje. Não são ruínas decadentes, como os prédios embargados e que nunca mais tiveram sinal de vida, ou o matagal que se sobrepõe a paredes de casas abandonadas, ou a vociferação angustiante das almas que se adulteram no pórtico das suas próprias ruínas. Um dia, um daqueles empreiteiros avarentos fazia planos na companhia de um arquiteto. Haveriam de seduzir um autarca e depois um secretário de Estado para a sua causa. Não terá sido coincidência que, nesse entardecer, quando chegaram a casa, e depois de uma discussão acesa com as consortes, as ouviram protestar – como se estivessem em uníssono – que os dois tinham a alma em ruínas.
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