7.8.18

Saldo ilegítimo (short stories #3)


Ty Segall & White Fence, “I Am Not a Game” (at Room 205), in https://www.youtube.com/watch?v=zpWPgduRk-U
          Um nome é um saldo. A contabilidade infecunda que sobre ele se abate (nome). Sem pudores por perto, que ele (saldo) tudo desfaz a cinzas quando se investe de contratempo. O pesponto de um nome pode ser sua fronteira. Se for vazio por dentro, a delimitação contundente do nome não tem serventia. Ele nada significará. Será destronado por um soldo sem saldo. Não se pode opor aos demais nomes, nem sequer quando estes intuem a colonização dos lugares que o nome sem conteúdo diz serem seus. Dir-se-á, nesse caso: um nome sem pergaminhos é um nome sem saldo. Ou com ilegítimo saldo a tornear o seu calcanhar, que nem chega a ser de Aquiles. Uma profunda névoa açambarca-se do lugar em que se encontra. Por mais solenes as proclamações sobre a posse de tal lugar, a cobiça não frui, malquista pelos olhos avulsos que, no âmago da profunda névoa, se constituem juízes. Condenado ao saldo ilegítimo, o nome desapossado de lugar inquieta-se com a servidão a que parece condenado: a orfandade, como acontece aos nomes tornados ilegítimos. Sem coroa para envergar, o saldo decretado ilegítimo por juízes sem rosto, o nome afogado não perde os sentidos. Não impugna o libelo da sua ilegitimidade. Reinventa-se. Fixa esteios num lugar diametralmente oposto (ainda que vizinho ao que largou). Já não admite os pespontos que dão cor ao nome como limites irrenunciáveis. Aprendeu. Vale mais ter um exíguo território todavia preenchido e limites volúveis. Os nomes não são ilhas desertas, não são lugares sem contiguidade. São legítimos quando são uns e outros água do mesmo caudal. 

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