The Strokes, “Last Nite”, in https://www.youtube.com/watch?v=TOypSnKFHrE
Quando é a velocidade o barómetro da usura? Ninguém sabe. Ou melhor: sabe-o, a posteriori. Não se iludam as almas sedentas de certezas. As respostas só amanhecem no restolho dos acontecimentos. Nessa altura, saberão se o passo determinado foi a contento. Se foi veloz ou vagaroso. Se colheu os proventos no tempo considerado certo, ou se foi extemporâneo, por atraso. Talvez a fortuna esteja em não conferir importância ao passo dado, à sua velocidade. O tempo não tem medidas quando os conceitos se jogam no diapasão oferecido contra o tempo. Não há medida universal. Diferentes pessoas vivem a diferentes tempos. Em diferentes escalas do tempo. As circunstâncias moldam-se, umas vezes a favor, outras vezes contra, na aleatória desmedida que passa a medida consagrada. Os olhos repousam na bruma matinal e interrogam os deuses que caucionam o tempo. Não é de estranhar que não recebam resposta. (Os que a obtêm ficam reféns de uma irredentista ilusão: a resposta é uma miragem da audição.) O melhor critério é a tentativa e erro. Sem a hipocrisia das ambições desmedidas. São um atentado contra os humores que se sentam no regaço de quem os tutela. Estão condenados ao malogro. Quem desiste das pretensões insensatas de medir o tempo certo da existência conquista o remédio da velocidade de cruzeiro. É a medida que não tem medida. Conceito que credita a velocidade. O que supõe que não se interrogue se a velocidade imprimida é por excesso ou por defeito. Quem não coloca a interrogação encontra a virtude da velocidade de cruzeiro. Imune à irritabilidade dos apressados, os que acabam sempre por se considerarem atrasados ao que chegam. Despojada de freios dos constantemente atrasados, penhores do temor de haver alguém que consiga a proeza de chegar depois. As curvas sinuosas aplanam-se no dorso sereno da velocidade de cruzeiro. É quando o sortilégio do tempo se incendeia na fogueira que nos devolve a liberdade de sermos sem o estigma do tempo.
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