Queens of the Stone Age, “I Sat By the Ocean” (live on Letterman), in https://www.youtube.com/watch?v=rBM7z2y15uc
Um acaso pode deixar de ser um acaso. A tribuna da memória, quando se joga em seu papel timbrado, di-lo-á. Os acasos que se enfeudam em si mesmos não contam para o engano das circunstâncias. São fortuitos, genuinamente casos fortuitos. Não se apagam do livro dos registos, a não ser que sejam tão irrelevantes que, na sucessão infindável de acasos, se dissolvem na textura da sua irrelevância. Quando um acaso tem lugar, ninguém sabe, naquele instante, se vai ficar emoldurado como acaso ou se os dados se jogam de modo a não o ser doravante. Esse é o sortilégio do desconhecido, da incerteza que nos pauta como meros atores incidentais das nossas próprias vidas. Estamos à mercê das contingências. Não é sensato alguém sentir-se domador de todas as variáveis que se combinam. A dose maior é exógena à vontade. É como se fôssemos peões num imenso tabuleiro onde se jogam as infinitas variáveis, os acasos, a relevância dos acasos, a sua possível transfiguração em matéria densa que transcende o fortuito. No encadeado de equações que se desmultiplicam numa rede interminável, somos pouco mais do que agentes passivos. Eis porque os planos são inconsequentes. Mesmo se soubermos as contingências que julgamos todas, outras, mais numerosas, medram no subterrâneo do desconhecimento, desligadas da vontade do ser. O mais certo, é os planos serem um logro. Por não acautelarem – não poderem acautelar – os fortuitos que sobram na rede lançada no mar das contingências. Ainda há quem persevere. Estão no seu direito. Convinha que os convencessem do exigível tirocínio sobre a incerteza, a elevada probabilidade de ocorrência de acasos que mudam o tabuleiro onde as peças se congeminam. Caso contrário, ficam reféns dos casos fortuitos e não cabe embaciar o olhar com uma tresleitura dos acontecimentos. Um acaso não é uma conspiração cósmica, ou algo de esotericamente parecido. É um acaso, apenas. Para ser digerido e materializado na matriz do pensamento.
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