R.E.M., “Wicked Game”, in https://www.youtube.com/watch?v=kGh4r1sSU9A
Levo à boca o suor doce, um pergaminho do teu corpo. Não sei das horas. Não quero saber. Agora sou penhor teu e tudo o resto despromove-se para o lugar da irrelevância. É preciso adestrar este fogo interior que nos deixa em ebulição. Levá-lo à boca de cena na quimera de um vulcão. E saber que as bocas que se insinuam ateiam as centelhas que nem disso precisavam; não se desaproveite a acendalha que abrilhanta a coreografia dos corpos. Sentimos aproximar-se a hora em que o tempo deixa de existir. O tempo que só nós sabemos de cor. Da sua cor, até. Não nos fazemos rogados na tempestiva safra dos corpos. Da pele tua sinto o ardor e a minha carne responde com rima. No santuário de onde nos entronizamos imperadores, só conta o desejo. O desejo desarmado de embaraços. É como se fossemos coautores de estrofes que costuramos na filigrana dos corpos. O fogo já não se interrompe. As veias latejam, febris, na ebulição uníssona. Só os deuses (ou seja: nós) sabem do esconderijo onde bruxuleia a voz túrgida que deitamos para fora. Os olhos não se escondem. Querem saciar-se no tumulto dos corpos. É uma maré que enche. Um mar tropical, quente. Não há armadilhas. Nem ardis. Ou fingimentos. Os corpos têm sua fala na moldura de um vulcão. Até que a lava faz o seu caminho, irrefreável. E repetimos: sabemos de cor cada vírgula do corpo outro. Podíamos desenhar um mapa, de olhos fechados. E não dizemos que é sempre igual. De olhos abertos, cicio umas palavras, as que tomam conta da boca, avulsas. Estremeces. Uma mão afaga o rosto. Desenha umas linhas aleatórias. Julgo que somos nós a dizer o que somos. Agora despojados, parece que somos deuses de vez. Até que queiramos redesenhar a nossa deificação, outra vez e outra vez.
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