Nick Cave & The Bad Seeds, “Straight To You”, in https://www.youtube.com/watch?v=CYbOHXMtelU
A primeira boa notícia, é que amanhã não demora. Se hoje foi caso de abundantes más notícias, a boa notícia é amanhã não poder ser pior. Tudo se conjuga para um ar rejuvenescido que vem com o fresco da manhã, o que acalenta a hipótese (em elevada probabilidade) de amanhã haver boas notícias. E por que queremos boas notícias? Alguns vociferam contra a degenerescência do mundo. O sinal são as notícias que se põem com má cara, a condizer com o rosto sorumbático do mundo. Como podemos ficar imunes? As más notícias não são apenas más para os seus intérpretes; são para todos os que tiverem sensibilidade e se sintam, por simpatia, afetados pela dor excruciante que uma má notícia provoca em suas presas. Mas amanhã vem depois e traz boas notícias. É uma confiança firme. A certo ponto, as circunstâncias que se jogam a favor de más notícias ficam exauridas. Ou amanhã somos nós que estamos cansados de más notícias, só vamos abrir as janelas às boas notícias. Seremos mais rigorosos no filtro que decanta as más notícias das boas notícias. Se sobrevierem más notícias, metemo-las entre parêntesis. Não as ignoramos; retiramos a importância que elas queriam possuir. Na separação heurística, ficamos com as boas notícias. Um nascimento. O amor. Um casamento. Uma promoção profissional. Uma invenção com lucro imaterial para a humanidade. Uma guerra que cede o flanco ao desejo da paz. Um governo que cai (o que é sempre uma boa notícia, de acordo com o manual do anarquista). Um amigo que celebra uma proeza. Um trafulha apanhado e sujeito ao juízo da justiça. Um livro de poesia. Uma peça de teatro. A música (com as exceções que se constituem irremediáveis más notícias). A sinceridade de quem errou e profere público arrependimento. Amanhã é amanhã e só teremos olhos para as boas notícias. Estas e outras que passem pelo crivo da imaginação. Nem que seja a fazer de conta.
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