The Clash, “Lost in the Supermarket”, in https://www.youtube.com/watch?v=qsrEAWcAvRg
Dizia: tenho uma cisma com um emérito académico coimbrão. Tenho outra cisma com um “músico” – assim se dá a conhecer – que não é de longe de Coimbra. Não tenho cisma com Coimbra. Tirando os rapazes de tunas que se perpetuam nos estudos, sem se saber se é por serem mandriões ou se por estultícia. Já estudei em Coimbra. Não posso ter cisma com Coimbra. Mas fico a cismar como se fazem as obras do aproveitamento hídrico do Mondego e, mesmo assim, as terras baixas ficam inundadas quando chove copiosamente. Fico a cismar por que se chama Coimbra B à principal estação ferroviária. E cismo, muito, com as ideias vesgas do emérito académico. Gostava de cismar, nem que fosse em sonho, com um cisma nessa escola que o tem como patrono, mas intuo que mais depressa cai um nevão em Coimbra. Não cismo com as belezas que retratam Coimbra, os seus caminhos estreitos e alcantilados, a orografia escarpada, a cidade velha e amiúde degradada. Mas cismo com o fado de estirpe coimbrã, vetustamente elitista, na adulteração do fado original, nascido nas tavernas de Lisboa e interpretado por castiços e castiças que mal sabiam ler e escrever. Cismo com a nomenclatura gongórica, espécie de fala em circuito fechado, dos seguidores do emérito académico. Cismo como abdicam do pensamento próprio e singram na exata proporção das genuflexões ao decano. Dizia: não cismo com o Jardim da Sereia, nem com o edifício da Faculdade de Direito (onde estudei), ou com a doçaria tradicional. (Não cismo com nenhuma doçaria tradicional.) Cismaria se o emérito académico, depois do seu passamento, fosse proposto para o Panteão. Julgo que nessa altura seria a minha vez de decretar um cisma. Contra a portugalidade. Era quase como se o mencionado “músico”, quase vizinho de Coimbra, entrasse para a arqueologia da música popular. Cismaria contra a música popular. Ainda bem que não tenho de cismar e de cismar.
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