Alen Tagus, “Time Passing By”, in https://www.youtube.com/watch?v=Y_HmwjSKIFM
Sob os auspícios da lua, em sua luz caiada, jogo a terra humedecida com as mãos. Entranho-as na terra e deixo vir o aroma ao de cima. Afasto o medo. Afasto as angústias que pudessem medrar na timorata convicção de mim. A cada minuto que passa, desenha-se uma constelação que fermenta o peito duro contra os contratempos em espera. Não há lugar aos arcanos lugares, nem às molduras onde se agigantam as memórias, espúrias. Alisa-se o chão que se oferece como leito para o corpo. Ainda sob o beneplácito do luar intenso, a noite prossegue sem a minha companhia. Não me escondo. O sono é uma fértil manta de retalhos onde se conjugam os diferentes modos do tempo (menos o presente). Se ao menos soubesse que o sonho é um pressentimento; mas – e depois? – os pressentimentos esgotar-se-iam na verificação do prometido, fazendo ruir pela base os mandamentos em que fomos instruídos. Pode ser que o mal esteja nos mandamentos. E o conservadorismo de quem os invoca seja a obstrução à lente diferente por onde as coisas podiam ser decantadas. Parece que não cessamos de buscar proteção. A lógica cautelar em que se embebem as vidas, que só em irrefreáveis sonhos se orquestra o dissídio dos rebeldes. Às vezes, quando a rebeldia sobe a palco e escurece o demais, o pensamento insubordina-se e interroga o vão profundo onde se congemina o manto protetor que confere a quietude de tudo. Não é suficiente – desafia o lado rebelde, talvez a metáfora para a vertente oculta da lua. Quase sempre, triunfa o instituído. O risco contempla a sua própria dose de aversão. Consome-se em seus fantasmas, quase sempre imaginários (como acontece com os fantasmas). Se, em delito das convenções, um dia se soerguer e no cálice vier à boca o desejo da rebeldia, asfixiem-se os mantimentos da proteção que forem esbracejados. Como condição prévia ao ciciar da luz caiada que se hasteia no lado oculto da lua.
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