23.1.20

O mais aviltante é quando alguém cai do pedestal e todos fogem dele como se tivesse sarna (Compêndio do descomportamento)


Mão Morta, “A Porcaria” (ao vivo), in https://www.youtube.com/watch?v=kwB9octlwBg
Foi o Salgado e agora é a “princesa de Angola” – e toda uma súcia que os pajeou e agora deles foge a sete pés, branqueando a memória. Mas apenas a sua memória.
(Este opúsculo não é uma defesa de gente indefensável, a começar pelos que caíram do pedestal.)
Faz parte dos manuais da História e dos compêndios da psicologia do comportamento. O processo repete-se. Os arrivistas, ou aqueles a quem convém ser pajem de um poderoso porque pressentem colher vantagens, multiplicam-se em genuflexões, adejando nas imediações do oxigénio respirado pelo poderoso. Prestam-se ao papel de idiotas úteis. São úteis para os poderosos que os usam como peões ao serviço dos seus interesses. Testas-de-ferro ou figurantes que tratam das encomendas endossadas pelo poderoso. Não se importam. A contrapartida é uma sinecura, uma benesse, uma lauta vantagem patrimonial, ou serem embaixadores do imenso poder detido por sua excelência – porque eles não viram a cara a um naco de poder, mesmo que seja delegado por quem está no topo da cadeia alimentar.
Um dia, o poderoso perde o estatuto. Cai em desgraça, a que se segue uma vertiginosa descida ao inferno da decadência. Fica sozinho. Observa-se a deserção do numeroso exército de seguidores na exata medida da sua decadência. Os que fizeram parte da obediente coorte desaparecem do radar. É de seu interesse que os olhares públicos deles se esqueçam enquanto os efeitos sísmicos da decadência do poderoso não forem dissipados. As dúvidas ficam clarificadas: esta era uma coorte oportunista. A debandada de poder e a privação de meios materiais do outrora poderoso alimentam a sua deserção. Foram falsamente leais. A lealdade não era à pessoa do poderoso; eram leais ao que ele representava, o que ele detinha. Esta era uma coorte desleal.
Quando alguém desta linhagem é atingido por tamanho descrédito, a decadência que lhe está reservada não é partilhada pelos que foram seu séquito e que, em nome dele, lesaram valores e princípios que parece só terem sido lesados pelo poderoso a quem o trono foi retirado. São ainda piores do que o poderoso sobre quem recai o opróbrio público. Ratos que saltam do navio à primeira oportunidade, por pressentirem que o navio está condenado ao naufrágio. 

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