Nick Cave & the Bad Seeds, “Waiting for You”, in https://www.youtube.com/watch?v=e0vQTzYe9Lk
O caudal sem rosto, silencioso, apresenta-se a serviço. Não quer comendas. Não quer reconhecimento. Quer apenas ser. Deseja que não sejam amurados os silêncios que se compõem na paisagem. Os silêncios que se compõem na remissão das palavras. Porque há no silêncio uma textura inigualável, palavras que amadurecem na peregrinação do pensamento. Um silêncio pode ser reparador. Antes do tempo. Quando sopesa as palavras que importa dizer e previne as palavras desastradas. Noturnos são os ávidos silêncios que tutelam o silêncio estrutural. Dizem: é quando o pensamento é mais fecundo. Quando se enraíza num húmus gourmet. Quando não tem interrupções de ruídos invasores. Ou de palavras embaraços, coalhando a lucidez. Por entre os silêncios noturnos, habilitam-se as ideias. Porventura infecundas, que a sua linhagem só se afere depois de ditas, depois de escritas e depois de decantadas, pelos outros e pelo próprio que é delas seu autor. Por entre as palavras noturnas, entre os suores frios e os vultos que adejam no infinito, lá longe, onde o infinito vegeta, indisponível e irrelevante, a parede estreita dos silêncios. Dos silêncios que se entrecortam nas palavras mudas, a medula mediata projetada no peito fértil. Antes que seja tarde, ou depois que seja cedo. Antes que venha a manhã e venha a palco o santuário das palavras a derrotar os silêncios heurísticos. Depois de ser erguido um monumento mundial de agradecimento aos silêncios, reparando a injustiça que o abraça. O campo fértil, desminado, onde os corpos se podem oferecer à fervura das palavras escondidas nos silêncios. Sem espadas embainhadas ou arestas aguçadas à espera de lancinar a pele desprotegida dos incautos. Um úbere onde fermenta a voracidade das palavras promitentes. Os silêncios são democráticos. São o único trono onde a igualdade se cumpre, plenamente. Os silêncios nunca se anunciam, ao contrário das palavras.
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