Transformavas-te na tua própria improcedência: confirmava-se que não foras feito para a convivência social. Os maneirismos fazem esboçar um esgar de desdém. Não sabes para que existem “usos e convenções” se eles são abundantemente despatrulhados. Admites um paradoxo: consomem-te os ninjas que se julgam acima das leis, mas os zelosos mastins dos “bons usos e costumes” levam-te à exasperação. Andas em sinal contrário da maré. Se um estroina egocêntrico espezinha as regras, fazes o possível para o contrariar (sabendo que contribuis para a reposição da legalidade, algo que faz estremecer a tua ossatura misantropa). Se um pastor da normalidade te importuna, aos costumes dizes nada (mesmo sabendo que te alistas no feudo dos estroinas egocêntricos que espezinham as leis). Já te habituaste a não transigir com o assédio da consciência. Eram frequentes os murmúrios que transtornavam o sono. Ela reprendia-te pela volubilidade e acusava-te de incoerência. Já foi tempo que esse era dos piores libelos que sobre ti podiam pender. Hoje, n ão. Já passaste (e com distinção) o tirocínio do amestramento da consciência. Hoje, não patrocinas a vilegiatura dos apessoados da coerência. A humanidade nunca mais aprende com a sua fragilidade irremediável. A tua posição é em virtude do vento que sopra e de como os sentidos travam os combates interiores. Agora já não estás empenhado à consciência. Era algo que te incomodava. Como era possível alguém ser um palimpsesto de si mesmo? Como era possível ceder ao império da consciência, como se ela fosse a colonizadora implacável da vontade? Resolveste os assuntos pendentes. Determinaste que não serias refém de ato algum que comandasse a vontade. Quando fosse preciso, serias rebelde em causa contra as boas maneiras. E serias um sedentário seguidor das boas maneiras, de outras vezes. Não querias espartilhos. E a rebeldia metódica contra as boas maneiras era um espartilho. Mas sobrava uma derradeira interrogação: a vontade não é um espelho da consciência?
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