Qual é a vedação que seduz as consoantes mudas? Previa os subúrbios da alma e não conseguia encontrar a medida do vento. Eram as palavras, as únicas sem freio. As palavras; as escritas, que as ditas esbarravam num certo pudor. E se um vulcão irradiava na boca latente, logo as algemas mentais amornavam a ousadia. Era assim que a vontade se estilhaçava nas vedações que arborizavam a paisagem. Perguntava: “do que és capaz?” e continuava sem saber por onde procurar. Às encruzilhadas sistemáticas nunca virei o rosto. Venci algumas; perante outras, dei-me como vencido – é a “lei da vida”. Por mais que conseguisse seduzir umas consoantes mudas, parecia-me que havia limites mais longínquos por desafiar, matérias insondáveis que mereciam demanda, lugares à procura de representação no mapa mental. Seria sempre ermo, o tempo. “Do que és capaz?” Devia reformular: “de que és capaz?” A diferença é entre fixar o que se cobiça e saber que meios reunir para ficar a caminho de o conseguir. Não sei do ouro preterido pelas manhãs esquecidas. Soube da absolvição, antes que o tempo encerrasse as suas portadas e a caducidade se tivesse extinguido. Sei que trouxe a água fria ao rosto e o olhar ficou caiado com a fulguração do sol fundido com o frio da manhã. Por mais que se protele o passado, não vinga a negação que se abate sobre o pensamento. Não se diga que é hibernação. Não se diga que há vultos arcaicos a pender sobre a ossatura, como se a quisessem deformar. As mãos têm de se agarrar à vontade como se fossem náufragos a sobreviver num pedaço de navio. De que sou capaz, só o saberei dizer quando a contrariedade me encontrar num apeadeiro qualquer. Só então saberei inventariar, com a ajuda da improvisação, a pauta a preceito.
3.2.21
Do que és capaz? (short stories #295)
Xinobi ft. Moullinex, “The Darkest Night” (live at CCB), in https://www.youtube.com/watch?v=Ps5fjFngSCM
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