É dos vilões que fica a impressão digital na gramática da humanidade? Quantas vezes os vilões ficam escondidos no covarde anonimato, capazes de vilificar sem serem denunciados? Um sentimento geral perpassa entre as pedras frias que nos tingem a alma: não é ónus ser bárbaro. A menos que a mortificação interior se avive e torne o sangue insuportavelmente febril; é o próprio vilão que caminha sobre o fio delgado do seu abismo, exibindo a vilificação em arrependimento. A populaça, em gesto imponderado, arranca o escalpe ao bárbaro confesso, perentoriamente. O que faz com esse escalpe a populaça que, no apogeu do ato imponderado, se considera vingada? Restaura as desumanidades cometidas pelo vilão? Repõe as vítimas no estatuto em que se encontravam antes de terem sido presas do bárbaro? Os engenheiros da sociedade não se importam com estas interrogações. Só se importam em exercer a justiça pedagógica: cuidam do exemplo, para memória futura; e aproveitam para fazer descer a ira da vingança sobre os bárbaros que confessaram as malvadezas ou que foram apanhados no seu rescaldo. Para memória futura: e se os contemporâneos não tomarem conhecimento da justiça reparadora da populaça? E se, por falta de informação, não souberem que a malvadez acabada de punir é uma malvadez que, a ser descoberta, pode ter tradução no arrancar do seu escalpe? Este é o logro da justiça reparadora. Não repara nada, só cuida de acautelar o porvir. Sem saber se o faz com proveito. O escalpe do bárbaro, a ser exibindo, é um ato grotesco. Ostenta um poder que amedronta os viventes. Cerca-os de terror: a imagem de um escalpe não é gentil. Não chega a cumprir o seu propósito. Em todos os lugares e em todos os tempos, sempre houve bárbaros. Convictos ou incidentais. Insensíveis à pedagogia da justiça reparadora.
12.2.21
Quem quer o escalpe dos bárbaros? (short stories #299)
Dry Cleaning, “Strong Feelings”, in https://www.youtube.com/watch?v=XsujZ82VKDg
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