Um protesto contra o açaime que desfigura os rostos. Parece que somos todos baldios, ou então um estribilho gasto que valida uma dependência. Alguém sugere: “e se fizéssemos marcha atrás?”
Em resposta, o silêncio povoa tudo. Ninguém sabe como responder. Ninguém sabe se a emergência do medo combina com a devolução do tempo. E mesmo que combinasse, como podia ser restaurado todo o bem que foi destruído até chegarmos ao abismo de onde se pressente um apocalipse?
Ninguém tem um oráculo do passado como se o passado tivesse sido desenhado por outros dedos. Mesmo o passado próximo é um ermo, à distância da impossibilidade. Alguém contesta: “mesmo que fizéssemos marcha atrás, saberíamos como avançar?”
Os olhos, incapacitados pela bruma persistente, não alcançam para além dos arbustos. É aí que se escondem os segredos e se encontram as respostas. O oráculo desfeito revolta-se contra o medo que transita entre as pessoas. Delas exige que sejam temerárias. Alguém confessa, em jeito de interrogação: “e não foi por sermos temerários que agora suplicamos pela marcha atrás?”
As semanas também se revoltam, no seu passar vagaroso. É o tempo, cansado de ser refém de algo que lhe é exterior. Pela primeira vez, os que lamentam a exiguidade do tempo desejam que ele fosse veloz. Acreditam que o exacerbar do tempo resolve os dilemas em que se consomem. Reféns da falta de lucidez, limitam-se a adiar o tempo sem o saldarem. Alguém se antecipa ao clamor: “e existe a possibilidade de engrenar a marcha atrás?”
Todos descobrem que o veículo em que se fazem transportar não tem marcha atrás. Uma voz no meio da multidão, submersa na sua metade açaimada, adverte, com o olhar de renúncia: “a marcha atrás é uma impossibilidade”. Faz-se silêncio. Demoradamente. Parece que todos emudeceram. Não estão preparados para continuar a avançar. E souberam, na própria carne, que não podem engrenar a marcha atrás.
Colados ao cuspo do silêncio, aventuram-se no espaço sem limites. Vão descobrir, com todas as dores intrínsecas, que a escuridão será a sombra que enforma todos os corpos. E uma voz murmura, repetidamente: “não há marcha atrás, não há marcha atrás, não há marcha atrás...”
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