Apronto matinal. O escanhoar decisivo – dizem que uma barba negligente deixa os mais capazes de fora. Dizem; mas podiam dizer coisas mais válidas para a semântica que é código de conduta.
Alguém notou que somos peões no tabuleiro dos códigos de conduta? Jogamos o jogo sem saber do húmus das regras. Sem questionar se os adjetivos presidentes são a caução da legitimidade dos códigos de conduta. Invocam-se as emendas da alma. A redenção é a porta blindada do arrependimento.
Alguém notou que o arrependimento é uma erva daninha? Uma pessoa transgride e sabe da transgressão. Quando os efeitos da transgressão se sublevam contra o autor, ele encosta-se à parede onde convoca a consciência e persigna-se em arrependimento. E em juras, também: não voltará a transgredir (pelo menos aquela transgressão; não promete não cursar outras transgressões). Fica à espera que a jura, o verbo alado do arrependimento, opere o sortilégio da redenção.
Alguém notou que a redenção é a remissão da responsabilidade? Não há águas medicinais que disfarcem o que subiu a palco. Não é possível esquecer o ato transgressor. Não é possível recusar o ónus que reverte a desfavor do transgressor. Há uma matilha de vocábulos que está de atalaia. O dicionário pessoal não mente, nem fica anestesiado quando o palco se vira contra o transgressor. Refém de uma solidão excruciante, procura desmatar os formulários onde o libelo foi costurado.
Alguém notou que a beligerância da alma é uma emboscada? A solenidade que se impinge na cor das veias é um abismo imparável. A propensão para a beligerância é uma inventiva ao magma brando que tem pano de fundo. Desafiá-lo é uma impostura não declarada. Um sonso dilema sem serventia. Um dominó estulto, cada peça derrubada a emprestar ao todo a epiderme puída, incurável. Somos essa impossibilidade enquanto os miasmas a que damos cobertura prosperarem sem escrutínio.
Augura-se uma teoria das possibilidades que desminta os ultrajes que fermentam desde a funda ossatura do ser. Não queremos ser penhores do amanhã. Mas não podemos ser reféns do ontem que é cultura do alvoroço. A teoria das possibilidades depende da nossa assinatura. Deixemos que a vontade concorra nesse sentido.
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