6.7.04

Crise política?

Nestes dias de euforia colectiva, subitamente arrefecida pelas investidas traiçoeiras dos helénicos, anda por aí muita gente que perdeu o norte. Ignoro se a engenheira Lurdes Pintassilgo é aficionada pelo futebol em geral e pela selecção nacional em particular. Desconheço se a senhora foi apanhada pela bebedeira colectiva que vestiu o país de norte a sul. Não sei se terá sido esse arroubo de emoção que lhe perturbou a razão. Ou se apenas são os descaminhos da idade que passa e deixa as suas marcas. Lavrada fica a falta de razoabilidade nas palavras de Lurdes Pintassilgo, a meio da romaria de “personalidades” que Sampaio decidiu escutar para tomar a sua decisão sobre a “crise política” em que Portugal mergulhou.

Lurdes Pintassilgo disse, com o ar doutoral que a acompanha, que esta é a maior crise política desde o 25 de Abril de 1974. Os desvarios de Vasco Gonçalves; os desmandos dos capitães que se arvoraram em senhores da coutada nos tempos saudosos do PREC; a instabilidade política de finais dos anos 70, princípios da década de 80 (com os sucessivos governos de iniciativa presidencial); nada disto é comparável à profunda e grave crise política que varre o país em pleno 2004.

Ou a engenharia tem memória curta, ou enferma de graves lapsos de análise. Passar uma esponja sobre aqueles episódios lamentáveis é branquear um passado ignóbil que deixou marcas bem mais visíveis do que a actual “crise” governativa. Não me vou dar ao trabalho de resgatar as memórias do baú para recapitular o que de dantesco se passou nos momentos que há pouco identifiquei. Mais importante é responder à seguinte pergunta: a ida de Durão (Barroso, José Manuel Barroso, na União Europeia) para a Comissão, com a queda do governo, instalou uma crise política?

As crises deste calibre existem quando há um vazio governativo, quando não é possível reunir uma maioria parlamentar de suporte a um governo estável, quando se suspeita que os alicerces do regime estão sob ameaças golpistas. O que se passa na actualidade não se enquadra nestas características. O governo cai com a demissão do primeiro-ministro. Mas, em regimes parlamentares, os governos são constituídos em função de um parlamento que lhes dá existência. Quando as esquerdas pedem com insistência que Sampaio convoque eleições antecipadas, há uma grande confusão no ar: a queda do governo não implica a dissolução da assembleia da república. Uma coisa não leva à outra. Tanto mais que os partidos que sustentam a coligação governamental mantêm o suporte parlamentar a um novo governo que emane desta maioria parlamentar.

A “crise” é uma invenção das esquerdas que leram nas estrelas, quais astrólogos de vão de escada, que os resultados das eleições europeias são um sinal inequívoco do descontentamento popular. Como se os dois terços de abstencionistas não prejudicassem o juízo. Como se das eleições para o Parlamento Europeu se pudessem tirar ilações tão claras sobre o sentir popular acerca da governação. Se assim fosse, todos os países da União Europeia (à excepção da Grécia e da Espanha) teriam que avançar para eleições antecipadas. Que se saiba, nestes países não há o clamor popular para eleições antecipadas. Talvez porque aí se manifestem sinais de maturidade democrática que andam arredios entre nós…

É compreensível o afã das esquerdas. Olham para este acontecimento como uma oportunidade de ouro para regressarem ao poder (PS; e Bloco de Esquerda, que anda, de mansinho, a cortejar os saiotes do poder). Esta gente foi educada a mamar na teta do Estado, banqueteando-se à custa do erário público, tragando irresponsavelmente os impostos que são pagos por quem trabalha de verdade. Para o futuro ficam declarações do inefável “Tozé” Seguro. Advertiu os portugueses que a única intenção de Santana Lopes como primeiro-ministro é gerir o calendário político durante os dois anos que faltam até se esgotar a legislatura. Aproveitar estes dois anos para o regabofe total, com um eleitoralismo sem precedentes. Para que então as eleições fiquem mais fáceis para o PSD-CDS. A jovem promessa socialista escusava de se desnudar perante o público. Era desnecessário confessar o que o PS faria se estivesse nas circunstâncias em que possivelmente Santana Lopes estará.

Às vezes, quando se abre a boca em busca de notoriedade e protagonismo, ou entra mosca ou sai asneira! E depois vêm dizer que é o PSD e o CDS que estão agarrados ao poder…Tudo farinha do mesmo saco! Sem excepções.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sabes ou não queres saber.
Essa tua raiva e agressividade para com as esquerdas colocam-te no patamar mediocre das direitas conservadoras onde Paulo Portas reina.
Acho que tens problemas por resolver e te deleitas em disparar para o lado da memória não resolvida.
Tens de crescer ou então tenho de te desejar uma boa existência como sargento.
Bem hajas pelo bem que fazes

Sou o carter e tb fiz o ultimo comentário