É uma imagem recorrente, Verão após Verão. Florestas a arder com o primeiro golpe de calor. Labaredas que se soltam numa fúria que varre tudo o que surge pelo caminho. Árvores reduzidas a cinzas, haveres pessoais que se perdem, pessoas e animais que encontram uma morte terrível, sem fuga possível após serem cercados pelas chamas indomáveis.
Verão após Verão, os mesmos diagnósticos, as mesmas promessas de alterar as coisas para evitar novas catástrofes que consomem mais árvores. Mas, Verão após Verão, sempre mais do mesmo. Um quadro que se repete, dando a impressão que ou existe incompetência por parte de quem deve prevenir os incêndios, ou somos impotentes para lutar contra este flagelo.
Existe a percepção de que esta é uma saga que persegue com especial acutilância as árvores portuguesas. Nada de mais errado. Hoje de manhã, no primeiro contacto com as notícias, vi imagens dos incêndios em Portugal – mas também em Espanha (onde ontem ceifaram duas vidas) e em França. Todos os anos repetem-se notícias de violentos incêndios na Califórnia, na Austrália. É uma praga que ataca todos os locais onde se conjugam vários factores: uma imensa mancha florestal, calor tórrido, ar seco e ventos fortes que propagam as chamas a uma velocidade vertiginosa.
Não me interessa discutir responsabilidades, nem tão pouco apurar possíveis soluções para esbater este flagelo nos anos vindouros. Apenas trazer a angústia ao ver as imagens que retratam os incêndios. Não tanto a obscenidade de ilustrar o sofrimento humano, quando as chamas levam os haveres pessoais de quem foi apanhado no meio do fogo. Isso faz parte do tenebroso espectáculo mediático que consome as preferências do espectador mediano, sempre ávido a servir de testemunha do sofrimento alheio para a seguir alimentar a sua compaixão pelo próximo. Se houvesse mais decoro, as televisões deviam estabelecer um código de conduta que evitasse a devassa da intimidade de pessoas que, como se já não bastasse terem perdido os seus escassos haveres, ainda vêm a penúria exposta aos olhos de um país combalido.
É triste o quadro estival. Quando o calor aperta, a humidade desce a níveis escassos e o vento transporta os sons da desgraça que se adivinha, é a incúria, a criminalidade e a doença mental que fazem o resto: os fogos ateados que, de súbito, atingem proporções gigantescas. As imagens trazem a dimensão da catástrofe. Colunas de fumo que se erguem no céu, espalhando uma chuva de cinzas por uma área que vai bem além da zona do incêndio. O ar irrespirável: com o calor asfixiante, o odor do fumo agrava a sensação de desconforto. As chamas que ultrapassam a altura de árvores, abraçando-as num manto de destruição. As faúlhas que dançam no ar, ao sabor de um vento errático que ajuda a tornar o incêndio mais devastador. A luta inglória dos sacrificados bombeiros, que por vezes pagam com a vida.
No rescaldo, o verde transforma-se num breu que traz o sabor da destruição. Natureza que destrói a natureza, num estranho jogo de compensação auto-fágica. Restam as cinzas escurecidas, um vasto campo de devastação que deixa um trago de amargura. Décadas de crescimento varridas por uns escassos minutos de fúria destruidora. Imagem do que somos: de como podemos levar anos a fio, com sacrifício, a construir algo e, num ápice, tudo se esvai. Quem conheceu florestas frondosas, com a folhagem das árvores a adejar ao sabor da brisa; e depois chega ao mesmo local, agora causticado por um incêndio, terá sentido esta imensa sensação de tristeza: onde antes dominava o verde-vida, impera um cenário negro de destruição. As árvores – o seu esqueleto encardido – jazem inertes, tresandando um cheiro de destruição trazida por uma força da natureza, o fogo.
Interrogo-me: será que enquanto houver árvores teremos, Verão após Verão, que lidar com uma obrigatória época de incêndios? Por mais que se fale de prevenção, de alterar uma “política florestal” que é inexistente, a verdade é que os factores da natureza concorrem para a fragilidade da floresta perante as chamas implacáveis. Disso não podemos escapar.
Verão após Verão, os mesmos diagnósticos, as mesmas promessas de alterar as coisas para evitar novas catástrofes que consomem mais árvores. Mas, Verão após Verão, sempre mais do mesmo. Um quadro que se repete, dando a impressão que ou existe incompetência por parte de quem deve prevenir os incêndios, ou somos impotentes para lutar contra este flagelo.
Existe a percepção de que esta é uma saga que persegue com especial acutilância as árvores portuguesas. Nada de mais errado. Hoje de manhã, no primeiro contacto com as notícias, vi imagens dos incêndios em Portugal – mas também em Espanha (onde ontem ceifaram duas vidas) e em França. Todos os anos repetem-se notícias de violentos incêndios na Califórnia, na Austrália. É uma praga que ataca todos os locais onde se conjugam vários factores: uma imensa mancha florestal, calor tórrido, ar seco e ventos fortes que propagam as chamas a uma velocidade vertiginosa.
Não me interessa discutir responsabilidades, nem tão pouco apurar possíveis soluções para esbater este flagelo nos anos vindouros. Apenas trazer a angústia ao ver as imagens que retratam os incêndios. Não tanto a obscenidade de ilustrar o sofrimento humano, quando as chamas levam os haveres pessoais de quem foi apanhado no meio do fogo. Isso faz parte do tenebroso espectáculo mediático que consome as preferências do espectador mediano, sempre ávido a servir de testemunha do sofrimento alheio para a seguir alimentar a sua compaixão pelo próximo. Se houvesse mais decoro, as televisões deviam estabelecer um código de conduta que evitasse a devassa da intimidade de pessoas que, como se já não bastasse terem perdido os seus escassos haveres, ainda vêm a penúria exposta aos olhos de um país combalido.
É triste o quadro estival. Quando o calor aperta, a humidade desce a níveis escassos e o vento transporta os sons da desgraça que se adivinha, é a incúria, a criminalidade e a doença mental que fazem o resto: os fogos ateados que, de súbito, atingem proporções gigantescas. As imagens trazem a dimensão da catástrofe. Colunas de fumo que se erguem no céu, espalhando uma chuva de cinzas por uma área que vai bem além da zona do incêndio. O ar irrespirável: com o calor asfixiante, o odor do fumo agrava a sensação de desconforto. As chamas que ultrapassam a altura de árvores, abraçando-as num manto de destruição. As faúlhas que dançam no ar, ao sabor de um vento errático que ajuda a tornar o incêndio mais devastador. A luta inglória dos sacrificados bombeiros, que por vezes pagam com a vida.
No rescaldo, o verde transforma-se num breu que traz o sabor da destruição. Natureza que destrói a natureza, num estranho jogo de compensação auto-fágica. Restam as cinzas escurecidas, um vasto campo de devastação que deixa um trago de amargura. Décadas de crescimento varridas por uns escassos minutos de fúria destruidora. Imagem do que somos: de como podemos levar anos a fio, com sacrifício, a construir algo e, num ápice, tudo se esvai. Quem conheceu florestas frondosas, com a folhagem das árvores a adejar ao sabor da brisa; e depois chega ao mesmo local, agora causticado por um incêndio, terá sentido esta imensa sensação de tristeza: onde antes dominava o verde-vida, impera um cenário negro de destruição. As árvores – o seu esqueleto encardido – jazem inertes, tresandando um cheiro de destruição trazida por uma força da natureza, o fogo.
Interrogo-me: será que enquanto houver árvores teremos, Verão após Verão, que lidar com uma obrigatória época de incêndios? Por mais que se fale de prevenção, de alterar uma “política florestal” que é inexistente, a verdade é que os factores da natureza concorrem para a fragilidade da floresta perante as chamas implacáveis. Disso não podemos escapar.
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