Já se sabe que há mais mulheres do que homens. Em pouco tempo deu-se uma coincidência de acontecimentos que vieram mostram como a mulher é um factor decisivo na tomada de decisões. Não que sejam elas as detentoras do poder de decisão. Estou-me a referir à influência que as mulheres, enquanto sexo maioritário, podem ter na escolha dos decisores. A ideia é cristalina: se elas representam mais do que 50% do eleitorado, é preciso dedicar-lhes uma especial atenção para que elas sejam cativadas pelas propostas – ou por quem as apresenta, em bom rigor.
Como referia há pouco, deu-se uma notável coincidência em Portugal e nos Estados Unidos em relação à escolha de candidatos a certos cargos que se destacam pela atracção que cativam junto do eleitorado feminino. Cá em Portugal, o primeiro-ministro indigitado e o previsível líder do PS encaixam-se, de algum modo, neste estereótipo. Também a decisão do Partido Democrata dos Estados Unidos em escolher John Edwards para secundar John Kerry na corrida presidencial se funda numa motivação idêntica.
Hoje em dia, no mundo da política a imagem é determinante para o sucesso de campanhas. Cada vez mais a imagem passada para o exterior ultrapassa em importância o conteúdo da mensagem difundida, o alcance das propostas, a constelação de ideias que estão por detrás das propostas. O embrulho que embeleza os políticos é o factor chave, relegando para uma posição secundária a pessoa em si mesmo e as suas ideias (quando elas existem).
Assim se explica que os conselheiros de imagem que rodeiam os políticos sejam pagos a peso de ouro e imponham a imagem aos aconselhados sem que estes se possam desviar das orientações. Um cabelo fora do sítio, uma gravata levemente desalinhada, uma palavra mal colocada num discurso fabricado com requintes laboratoriais, um sorriso bem construído, os retoques de lifting que muitos políticos sofrem nos outdoors – eis o mundo artificial que caracteriza a vida política contemporânea. Mais importante é a luz dos holofotes, uma boa imagem junto do público. Por isso há que a construir meticulosamente, com labor e sapiência, para reunir a simpatia dos eleitores que vão no engodo desta estratégia.
Nos Estados Unidos, a escolha de Edwards pretende contrabalançar a péssima imagem mediática de Kerry. O concorrente de Bush Jr. já foi apelidado de Drácula, tal a imagem sombria e medonha que transmite. Edwards é um jovem e dinâmico político, um self-made-man que subiu a pulso. É conhecido pela simpatia por causas que favoreçam a classe média. E tem reputação junto do eleitorado feminino, pela sua boa aparência e pelo charme que exibe. Depois da sua escolha para candidato a vice-presidente, li algures que um dos motivos que concorreu para a escolha foi a sua aura junto do sexo feminino. Vê-se em Edwards um capital de simpatia junto das mulheres que pode ser decisivo para desviar votos deste eleitorado para os democratas. Isto pode ditar, de acordo com a análise, o vencedor das eleições.
Em Portugal, foram muitos os anticorpos em relação a Santana Lopes. Que saiba, ninguém justificou a sua escolha nos mesmos parâmetros enunciados a propósito de Edwards. Mas sabe-se que Santana é conhecido pelo sucesso junto das mulheres. Quantas vezes o sexo feminino se manifesta, embevecido, pelo charme do futuro primeiro-ministro? Sobretudo aquelas senhoras e donzelas que consomem avidamente as revistas cor-de-rosa, para as quais Santana tem sido um manancial de notícias bombásticas. E não há que desdenhar o potencial deste eleitorado. Basta ver a abundância de revistas cor-de-rosa e a tiragem que elas têm.
Com José Sócrates o fenómeno é idêntico. Ainda que não disponha da mesma aura junto do sexo feminino, já li análises que esboçam o charme do previsível líder do PS como factor explicativo da escolha. Ou seja, teremos uma arenga política, entre os líderes dos maiores partidos, baseada na quantidade de corações despedaçados imputada a cada um deles. Vamos entrar num período inusitado da vida política, dedicado à atracção do sexo feminino. Será uma corrida ao charme, com discursos e posturas mais viradas para atrair as mulheres.
Um dia destes, pelo caminho que levamos, o sucesso político ainda há-de ser medido por um concurso de charme entre os pretendentes ao estrelato político. Sinal da vacuidade em que vivemos. E da ditadura que as mulheres começam, de forma subtil, a exercer. Depois não se queixem que são o sexo fraco e marginalizado…
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