Não sei o nome da árvore. Sei que é a única árvore que conheço assim. É a única que preenche o mapa botânico do parque. Ela é o cartão de visita para quem entra no parque pela sua entrada principal. Passa despercebida durante onze meses. Depois, subitamente, em meados de Junho começam a brotar umas bogas esverdeadas que anunciam as flores que estão prestes a irromper.
Chega Julho e, tímidos, uns pequenos tufos começam a erguer-se na vertical, rompendo da extremidade das bogas. Uns tufos vermelhos, que com o crescimento ruborizam e passam a vermelho escarlate. A magnificência da árvore está nestas flores que a cobrem em parte, dando uma tonalidade esfuziante à entrada do parque. Por um acaso da natureza, estas flores têm uma passagem fugaz. Não duram mais do que três semanas. Depois começam a mirrar, a perder o encanto da cor viva, definham até tombarem inertes no solo. Então a árvore volta-se a despir da veste engalanada que festeja o pino do Verão, hibernando na escuridão da folhagem verde que se refugia de uma invernia ainda distante. Até parece que a árvore desconfia dos caprichos da meteorologia e quer resguardar os delicados tufos encarnados das inclemências dos elementos.
Ver os primeiros raios de sol a bater nos tufos avermelhados é um espectáculo reconfortante. O vermelho vivo fica ainda mais luminoso com os raios que descem do sol. As cores ganham uma nova vida e resplandecem em todo o seu fulgor. A árvore respira exuberância ao ser batida pelo sol. Chama pelos pássaros e pelas abelhas que se saciam no pólen adocicado dos tufos vertidos pela folhagem. É uma fonte de vida, um quadro com pinceladas inebriantes. Vale a pena parar por uns instantes e apreciar este quadro, contemplar a beleza que irrompe, descontrolada, da natureza. Respirar bem fundo e sentir que são coisas pequenas como esta que merecem ser valorizadas. É um tónico que permite resgatar as forças e deitar para trás das costas o que há de lamentável à volta.
Pena é que a árvore seja contida na difusão da sua beleza. Quando chega Julho e deparo com a erupção de vida que dela brota, apetece-me reter esses momentos para os restantes meses do ano. Desejava que a árvore fosse generosa a mantivesse hasteado o seu esplendor por todo o tempo. É então que desço à terra: e reconheço que as coisas da natureza têm um lugar e um tempo próprios. Nada é feito ao acaso. E se a árvore tem a sua erupção floral apenas três semanas por ano, isso serve para concluir que se o quadro de esplendor perdurasse por mais tempo ele perderia a sua beleza.
As coisas querem-se na sua proporção. Nem menos, nem mais. Nem menos porque uma sensação de desconforto invade quem está à espera do quadro habitual, durante o tempo do costume. Mas também não vale a pena esperar por mais, correndo-se o risco de o valor que se atribui ao cenário bucólico e frondoso se esfumar na rotina. É a natureza o fiel da balança, que nos mistérios dos seus processos nos indica a devida proporção das coisas.
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