9.7.04

Os ecologistas e os parques eólicos

A meio de uma caminhada pela serra do Marão, já no topo da serra deparei com torres encimadas por hélices com pás de generosas dimensões. O parque eólico estende-se pela arriba cimeira da serra, espalhando vinte geradores de energia que dão uma configuração diferente a esta e outras serras.

Na central que transforma a força do vento em energia eléctrica há um painel informativo que fornece abundantes dados sobre o parque eólico. Desde o tamanho das torres (44 metros), passando pela rotação média dos hélices, concluindo com a mensagem mais importante: a energia gerada por este parque eólico serve para alimentar uma povoação de 15.000 habitantes. O que mais impressiona, quando se está debaixo de uma destas torres, é o zunido soltado pelas pás dos hélices. Sobretudo quando, como então, o vento se faz sentir com intensidade. É um ruído compassado, debitando a velocidade das três pás que compõem cada hélice, em função da pressa do vento.

Para quem está habituado a ver ao longe estes parques eólicos, a sensação é diferente quando há uma aproximação física. O que ao longe parece uma instalação minúscula, transforma-se com a aproximação. As torres são altas, os hélices são grandes e a velocidade a que são impelidos mete respeito. À medida que os hélices são empurrados pelo vento e soltam um silvo furioso, parece que a torre se vai desintegrar e o hélice despedaçar-se com fragor em cima do visitante. A dimensão do parque eólico revela como a imagem de pequenez ditada pela distância a que estamos habituados é enganadora. É uma obra que impressiona – mais ainda porque a sua instalação obrigou a vencer as condições agrestes do terreno, a desbravar o xisto enrugado do topo da serra para que todo o material necessário pudesse ser transportado até ao cume.

Dizem os especialistas que esta é uma energia limpa. Apenas aproveita um elemento da natureza – o vento – para gerar energia. Consta também que o investimento necessário é elevado. Mais importante é avaliar o grau de fiabilidade dos aparelhos que geram energia. Caso o material não tenha propensão para anomalias técnicas, caso a sua manutenção não seja dispendiosa, todos os dados se conjugam para que esta fonte de energia seja o futuro.

E o que dizem os ambientalistas? Desdenham a energia eólica, argumentando que altera as condições naturais das serras. Os ambientalistas estão preocupados com a estética das serras, ajuizando que os parques eólicos desfeiam a paisagem, que pervertem a tradicional pureza de elementos que caracteriza as serras. Sendo contra a intervenção humana em ecossistemas que perduraram virgens à mão transformadora do Homem, os ambientalistas rejeitam a energia eólica. Ainda que seja uma energia limpa. Logo, em teoria, uma energia que seria do agrado dos defensores do meio ambiente.

A apetência para a contradição não é novidade entre os ecologistas. Tentam a todo o custo salvaguardar o meio ambiente e, perdidos no seu fundamentalismo, acabam por negar aquilo que defendem. Assim sucede com a energia eólica. Que se saiba, a instalação de parques eólicos é a única forma conhecida de aproveitar as potencialidades energéticas do vento. A transformação do vento em energia não produz resíduos poluentes como, por exemplo, a produção de energia através da queima de carvão. O único “impacto ambiental” (e aqui a expressão tem que aparecer grafada) deriva das preocupações “estéticas” dos ambientalistas. Estou de acordo que as serras são mais belas, mais genuínas, sem estarem preenchidas pelos hélices giratórios dos parques eólicos. Mas o que preferem? Que a energia seja produzida por meios poluentes, degradando ainda mais o ambiente? Ou alternativas menos agressivas para o meio ambiente, ainda que elas se traduzam num “custo estético”, e nada mais do que isso?

Os militantes defensores do meio ambiente nunca devem ter ouvido falar de decisões que, não sendo óptimas, são boas. Porque o óptimo é tantas vezes impossível de alcançar, quantas vezes nos temos que resignar perante o que é simplesmente bom? Mergulhados no seu fundamentalismo, estes ambientalistas perdem o norte e a razão. Primeiro, porque rejeitam uma fonte alternativa de energia que contribui para uma menor dependência de emergias poluentes – logo, vão contra o que defendem. Segundo, porque deste afã de defesa do ambiente transpira a imagem de que não olham a meios para atingir os fins desejados. Muitas vezes pergunto-me se estes ambientalistas não estariam dispostos a sacrificar o ser humano como espécie só para preservar o ambiente…

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