22.4.05

Tolerantes que se escondem na capa de uma covarde intolerância

Na Universidade do Nevada, numa aula de economia, Hans-Hermann Hoppe explicava aos alunos que certas escolas do pensamento económico desprezam o longo prazo. Para estes economistas, apenas interessam os efeitos imediatos das decisões políticas. O paradigma do modismo vem com uma frase do economista que tem a paternidade intelectual desta corrente (Keynes): “no longo prazo estamos todos mortos”. Sugere-se: olhemos apenas para o dia de amanhã, já que os efeitos prolongados das decisões que hoje tomamos só serão sentidos quando já não estamos entre o mundo dos vivos.

Hoppe referiu que a afirmação celebrizada por Keynes faz sentido quando se soube, depois da sua morte, que ele era homossexual. Procurava mostrar que o longo prazo estava fora das cogitações de Keynes: pois se era homossexual, não podia ter filhos, logo era razoável que não olhasse para o longo prazo porque não deixava linhagem, não tinha que acautelar os interesses dos descendentes.

Dias mais tarde, Hoppe foi incomodado por uma comissão de ética da universidade. Um dos alunos que assistiu àquela aula tinha feito uma denúncia. O aluno, homossexual, sentira-se ofendido com a mensagem veiculada por Hoppe, que era acusado de fomentar um espírito de discriminação em relação aos homossexuais. Hoppe andou quase um ano, de inquirição em inquirição, algumas delas com um odor persecutório bem evidente, até que finalmente se livrou da acusação (toda a história aqui, narrada pelo próprio).

Hoje é perigoso falar, é muito perigoso fazer declarações que, sendo mal interpretadas, vão contra os dogmas do pensamento politicamente correcto e trazem a acusação da intolerância. A armadilha é sermos reféns da falta de inteligência alheia. Estou à vontade no assunto: já por mais do que uma vez aqui afirmei que os homossexuais devem ter igualdade de direitos com os heterossexuais. Mas não posso aceitar que os imperativos da “discriminação positiva” (outro disparate do politicamente correcto) edifiquem uma retórica proibida. São os novos inquisidores, no papel de juízes dos discursos alheios, de olho atento aos que rompem o unanimismo do reconhecimento dos seus direitos. Sempre prontos a disparar setas envenenadas contra os que professam pensamentos homofóbicos. Pelo caminho, também são apanhados na rede os que, não sendo adversos aos direitos dos homossexuais, são mal interpretados nas suas afirmações.

O que Hoppe disse é mentira? Não. Por mais que lhes custe, os homossexuais não conseguem procriar. A natureza não deixa. Nem o avanço científico arrepiou caminho à fecundação de homens por homens e de mulheres por mulheres. Os casais de homossexuais não reúnem as condições para a maternidade e paternidade por métodos naturais (outra coisa é assumir essa condição através da adopção – direito que já aqui defendi, sem preconceitos, para os homossexuais). Fora dos casos em que homossexuais adoptem crianças (o que está muito longe de ser vulgar), é compreensível que eles se concentrem em exclusivo um no outro quando constroem expectativas de vida. Não há os interesses dos filhos para curar. Negar isto é tapar o sol com a peneira.

Teve Hoppe uma exibição de discriminação contra os homossexuais? Também não. Ser realista não é ser homofóbico. Quem foi assaltado pela confusão de sentimentos foi o covarde aluno homossexual que não quis dar a cara ao fazer a denúncia. De que teria medo? Represálias do professor – se este é que foi perseguido? Vergonha de desnudar a sua homossexualidade? Sentou-se ofendido porquê? Porque a natureza não o deixa ser pai (ou mãe)? Então acuse a maldita natureza. No fundo, o intolerante foi o denunciante.

Há que o admitir, a causa homossexual tem vindo a conquistar terreno devagar. A sua afirmação entre a sociedade tem sido uma batalha difícil. Cada centímetro progredido custa muito suor aos seus defensores. A maioria da sociedade ainda pensa que estamos perante um “comportamento sexual alternativo” – o que revela a forma distorcida como a homossexualidade é apreciada por largos sectores. É natural que os homossexuais clamem pela tolerância da sociedade, para que possam aspirar a uma total igualdade com os heterossexuais.

Ora quem carece da tolerância alheia não pode ter a arrogância de exalar intolerância por todos os poros. Não pode ver fantasmas em todo o lado, acusando quem não é homofóbico de o ser. Sob pena de perderem credibilidade, de serem os próximos campeões da intolerância, acantonados num reduto isolado que não favorece os seus interesses. Quando deparo com estas exaltações anti-homofóbicas que são um simples equívoco, apetece-me destilar a maior das intolerâncias contra os homossexuais que protestam, indignados, contra a discriminação que sentem cair sobre eles.

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