- Primeiro-ministro com nome de famoso filósofo grego, ainda a aquecer o lugar: “Ó senhor ministro das finanças, tive um sonho: daqui a quinze, vinte anos (para não dizer trinta ou quarenta e a quadruplicação dos custos previstos), Portugal será um país moderno, com um grande aeroporto na Ota e um TGV de fazer inveja aos comboios de alta velocidade que palmilham a Europa.”
- Ministro das finanças, atarantado com o desnorte do aparelho socialista, esboçando arrependimento por ter embarcado nesta desastrada aventura: “Com todo o respeito, senhor primeiro-ministro, mas não acha que é um despropósito anunciar esses investimentos públicos, logo agora que temos a obrigação de sanear as contas do Estado?”
- Primeiro-ministro: “(pensando com os seus botões: olha-me este, mais papista que o papa. Razão tem o meu chefe, o Jorge Coelho, que não gosta nada de independentes) Senhor ministro, é tudo uma questão de retórica, de capacidade argumentativa. Não se esqueça que governamos para uma horda de papalvos. É fácil enganá-los com meia dúzia de patacoadas!”
- Ministro das finanças, impaciente: “Mas, senhor primeiro-ministro, há sempre os comentadores, os economistas, outros que andam de olhos abertos. Estes não vão dar descanso, denunciando a incoerência dos investimentos que quer anunciar. E devo dizer que até percebo a sua indignação. Em tempos de vacas magras, como explicar que há dinheiro para gastar nesses projectos faraónicos?”
- PM, já arrependido de ter escolhido esta personagem para o ministério das finanças: “Vamos ser francos. Deixemos de lado as falsas ingenuidades. Quando aceitou o cargo, devia saber que temos clientelas a satisfazer. Diz-me o meu chefe, lá no Largo do Rato, que temos que contentar amigos de amigos de militantes destacados. Eles estão à espera que tomemos decisões que são a galinha dos ovos de ouro para os seus negócios. Já bastou a travessia no deserto quando a direita governou e meteu ambos os projectos na gaveta.”
- MF, já com saudades das aulas na universidade: “Não era isto que esperava quando vim para o seu governo. Chame-me ingénuo, se quiser. Mas custa-me aceitar uma prática política que é a negação do que ensinava na universidade. Como vender ao país a ideia de que há dois elefantes brancos que devem prosseguir só para satisfazer clientelas privilegiadas, sacrificando o resto do país? Democracia é governar para uma pequena minoria, espezinhando os interesses da larga maioria?”.
- PM, no desespero de ver os esgotados os argumentos: “Se quisesse manter-se fiel ao que ensina na universidade, mais valia não ter saído de lá. Eu explico-lhe: como em tudo na vida, é larga a distância entre a teoria e a prática. Não faz mal ensinarmos aos petizes uma determinada teoria, sabendo que na vida real vão ser confrontados como uma prática que a desmente. A política é a arte de iludir as pessoas sem elas darem conta que estão a ser iludidas.”
- MF, mentalmente a fazer as malas de regresso à universidade: “Há princípios de que não abdico. Pedimos aos cidadãos para aceitarem a contenção orçamental. Aos mais incautos, até aos mais desatentos, será fácil perceber que esse discurso não é coerente com os projectos da Ota e do TGV. (E depois, pensando consigo mesmo: vais ver, no próximo domingo vou publicar um artigo de opinião no Público. Vou-me demarcar desta política irresponsável de ir em frente, sempre em frente, sem saber se adiante não se encontra o abismo. Para mim basta. Ota, TGV, ó primeiro-ministro, é que é já a seguir – mas não contes comigo!) ”
Já com novo protagonista, a teimosia mantém-se. O comunista reciclado que se abarbatou com o ministério das obras públicas têm a desfaçatez de dizer que não há estudos prévios que justifiquem o aeroporto da Ota. Na sua douta opinião, esses estudos são desnecessários. Como quem diz: começamos a obra, e depois logo se vê. É a cegueira mais empedernida que se pode imaginar. A irresponsabilidade no seu ponto de ebulição. O comunista reciclado encontrou num refugiado do capitalismo o seu acólito de eleição – o sorumbático ministro da economia. Desdobrando-se em desculpas que se assemelham à retórica de um reles vendedor de banha da cobra, insiste que o aeroporto da Ota e o TGV são investimentos virtuosos. Nas páginas do Diário de Notícias, o Luís Delgado do PS (António Perez Metello) puxa lustro à imaginação para educar os pacóvios que o lêem que estes investimentos não são um disparate.
Se é tanta a mania das grandezas, porque não ser mais ambicioso? Umas achegas: um plano de investimento na indústria aeroespacial, para termos as nossas próprias naves e cosmonautas em órbita; um plano de investimento em armamento nuclear, agora que a ameaça terrorista dos fundamentalistas islâmicos cresce de tom; a candidatura aos jogos olímpicos e ao campeonato do mundo de futebol, com mais estádios faustosos; um aeroporto internacional em cada capital de distrito; outro Alqueva, algures na geografia nacional (venceria aquele município que enchesse os bolsos – por baixo da mesa – do governante de serviço); etc.
No final da linha, um Portugal inviável, financeiramente despropositado. Ficaríamos nos anais como a geração que arruinou o futuro das gerações vindouras.
Sem comentários:
Enviar um comentário