5.7.05

Publicidade perigosa…


Reportagem sobre a “democracia à socialista” – ou de como alguns destes espécimes têm um entendimento muito particular das palavras “democracia” e “tolerância”. Aconteceu em Braga, onde o edil decidiu embirrar com os outdoors do candidato concorrente. Alegou que os cartazes são um perigo à segurança rodoviária, porque foram plantados nas imensas rotundas que enxameiam Braga, podendo distrair os automobilistas. Ainda bem que se cumpre Estado de direito: o candidato rival queixou-se em tribunal, que lhe deu razão. Obrigando o dinossaurico autarca bracarense a meter a viola no saco. Às vezes os tribunais dão lições de convivência democrática aos supostos democratas que não sabem distinguir maioria absoluta de poder absoluto.

O jornalista entrevistou o candidato da coligação PSD-CDS. Tentou entrevistar a pessoa pequenina de barbicha ridícula e olhos esbugalhados que se encontra agarrado ao cadeirão do poder em Braga há longos anos. Talvez por ainda estar a sofrer os efeitos da indigestão causada pelo tribunal, não estava disponível para declarar coisa alguma. Como vai sendo hábito no nosso jornalismo, o repórter tinha que opinar.

(Um parêntesis, em sentido literal: causa-me espécie este jornalismo que se ufana da maior imparcialidade e depois resvala candidamente para a exibição de opiniões próprias, quantas vezes marcadas pelo desconhecimento de causa e pela leviandade da análise. Julgava-se que jornalismo é isenção; afinal, é só atropelos a este dogma. Será produto da evolução do sector, com a formação de jornalistas por universidades consagradas ao estudo do jornalismo como ciência elevada a um patamar superior?)

O jornalista opinou: deu a entender que o argumento do autarca de Braga era inadmissível, absurdo. Mesmo tendo razão, não é isto que se espera do jornalista quando exerce a sua função. Ninguém pediu aos jornalistas para serem “educadores do povo”. Nem que se bata na tecla da impreparação geral da audiência, nem assim é aceitável que os jornalistas se façam passar por professores do povinho que consome com religiosidade o que eles decretam do alto da sua sapiência. Dispensava-se o comentário final do jornalista. Até porque, querendo brilhar, terminou a reportagem exibindo a imagem que reproduzo lá em cima, lançando a interrogação: “e publicidade desta, não será ela a pôr em perigo a segurança rodoviária?

Era o que faltava, termos uma qualquer autoridade investida de um iluminado poder moral a sentenciar sobre o que é publicidade segura e publicidade insegura! Já não bastam os ministérios, secretarias de Estado, direcções-gerais, sub direcções-gerais, observatórios disto e daquilo, agências especializadas, altas autoridades e quejandos que existem a rodos? É magnífico o espírito criativo desta gente, com uma sede inventiva que descobre mais um domínio onde o Estado tem que pousar a pata regulamentadora.

Fiquei sensibilizado com a preocupação do jornalista. Num tempo em que tanto se disserta acerca da segurança rodoviária, porque não inserir uma norma no novo código da estrada que proíba a exibição de imagens sugestivas, com mulheres semi-desnudadas, expoentes de sensualidade, que possam fazer cavalgar as hormonas masculinas para níveis preocupantes ao ponto de causar despistes e embates? Aliás, as próprias seguradoras deviam contribuir para o peditório: recusando-se a pagar os danos de acidentes provocados por varonis distracções de quem se embevece com as imagens tórridas plantadas pelos outdoors de norte a sul.

A imagem é sugestiva. Deter o olhar na menina que começa a tirar o calção e deixa exposto o mínimo biquini que se entreabre pelas curvas adocicadas que começam na curvatura dos rins e findam nos alvores das pernas faz bem à vista, é inequívoco (perspectiva marialva, claro!). Ir além disso é entrar no domínio do doentio. Sê-lo-á o jornalista que quis misturar alhos com bugalhos e, sem dar conta, acabou cercado pelo ridículo?

1 comentário:

PVM disse...

Pedro Morgado, três breves notas:
(Resposta a um comentário que, entretanto, foi apagado por ele mesmo)
- Mantenho que os jornalistas relatam, não opinam. Até porque raras vezes estão preparados para opinar. O que acaba por condicionar, pela negativa, a opinião de um público desinformado.
- Concordo: a comunicação social é condescendente em relação às trapalhadas deste governo. Mas ai de quem lançar a acusação, que as virgens pudicas da comunicação social saltam do refúgio indignadas por se colocar em causa algo que elas não conseguem ter – imparcialidade. Seria bom que a imprensa, como sucede em alguns países, declarasse interesses. Ficava tudo às claras, sem se atirar areia aos olhos de quem está a leste de tudo isto.
- Mesquita Machado: nem vale a pena perder tempo a discorrer sobre este péssimo exemplo do poder autárquico. E de como há muitos socialistas que não digerem adversários a morder nas canelas, nem cultivam as regras do jogo democrático. Numa coisa são exímios: apregoar o “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”.

Paulo Vila Maior