Soube-se há dias. Um inquérito a espanhóis, para saber quantos concordam com uma união com o vizinho lusitano. Quarenta e cinco por cento disseram sim. A notícia passou as fronteiras e invadiu os jornais do país que, supostamente, seria o objecto deste takeover. Uns dirão: a união faz a força; outros, que levam estas coisas da nacionalidade a peito, teriam gostado que houvesse censura. Ao menos não teriam o desconforto de tomar conhecimento de tão elevada percentagem de espanhóis que via com bons olhos um só país na península ibérica.
Algumas observações. A primeira prende-se com o rigor de tais “inquéritos”. Ficámos sem saber qual a representatividade da amostra: quantas pessoas foram inquiridas, como (por telefone? Em entrevista de rua?) e em que zonas de Espanha (só na centralista Madrid? Uma amostra de todas as nacionalidades hispânicas? Os galegos também foram incluídos na amostra? E a resposta de um galego favorável à união ibérica tem o mesmo sentido que a de um colonialista madrileno?).
Segundo comentário: não consigo reprimir um sorriso quando deparo com estes exercícios obnóxios. Devem partir de gente que parou no tempo, ou que se entretém a simular fantasias que, olhando ao tempo em que vivemos, são esdrúxulas manobras. Falta saber se há uma motivação escondida. Pode ser uma tentativa para passar lustro no orgulho nacionalista espanhol. Duvido que do lado de lá da fronteira a conjuntura exija manifestações de exaltado patriotismo. A ETA está contida, os nacionalistas catalães apenas em sonhos acreditam na independência, na Galiza estão sufocadas as tendências separatistas.
Não percebendo as razões desta lucubração iberista, suspeito que a origem esteja numa manobra fantasiosa de vetustos militares que teimam em existir (os militares e, obviamente, os seus cenários hipotéticos que têm tanta probabilidade de acontecer como as águas do Douro começarem a correr da foz para a nascente…). Como o pessoal das casernas enfrenta um necessário downgrading (sinais dos tempos), têm que se entreter com alguma coisa. Porventura ter-se-ão lembrado de esboçar tácticas de ataque ao pequenino Portugal. Para saber por onde atacar, como invadir, quanto tempo levaria a concretizar o objectivo, qual o apoio entre a população espanhola. Daí o inquérito aos residentes.
Do lado de cá, tão dependentes dos adágios populares, ainda se apregoa que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”. Ao tomar conhecimento que quarenta e cinco por cento dos espanhóis desejavam ter uma intimidade maior com os portugueses (tão grande que passaríamos todos a ter uma só nacionalidade), os patriotas lusitanos devem ter esboçado um esgar de desconforto. Felizmente não há pensamento único nestas matérias. Em vez de levar o assunto a sério – porque, pura e simplesmente, não há motivos para o fazer – ele devia ser trazido para a arena do humor. Apetece perguntar: e porque haveriam os espanhóis de querer herdar um país tão merdoso?
Os espanhóis têm problemas que cheguem. Paira o incómodo de saberem que são um país artificial, com nacionalidades reprimidas em nome de uma putativa grandeza. Têm que lidar com as ambições independentistas dos bascos, catalães, galegos – e agora até na Andaluzia e na Comunidade Valenciana começam a surgir espontâneos movimentos no mesmo sentido. Cada vez mais a Espanha é um mosaico que só se equilibra pelo espartilho que asfixia tendências separatistas. Cada vez mais se percebe que a Espanha se esboroa. Com tantos problemas, para que quer a Espanha acolher nos seus braços uma problemática Lusitânia? Com um risco adicional: como se esqueceram de estender o inquérito ao outro lado da fronteira, ficaram sem saber qual a percentagem de lusitanos a favor da incorporação do seu país na grandiosa Espanha. Arriscavam-se a despertar um pequeno gigante adormecido, um herdeiro do valente Viriato. Eles perceberão que os custos não compensam o egrégio intuito de estender a Hispânia a todo o território peninsular.
Descansem as almas atormentadas com os quarenta e cinco por cento de espanhóis que não se importavam de aglutinar o pequeno Portugal. Para tão exaltados patriotas, o reconforto de saberem que a odiada União Europeia serve para impedir estes takeovers hostis de países. Males que vêm por bem.
6 comentários:
Ah! Eis uma utilidade extra para a UE: garantir a independência nacional. Suponho que isso também esteja na "arena do humor" do post.
Francamente, esse inquérito não me tira um minuto de sono, embora saiba que ainda não há muito tempo, em círculos de reflexão geopolítica de Madrid, se dizia que, olhando (de Madrid) para o mapa da Península, havia um sentimento de castração. Isto faz-me sorrir ainda mais. Levando a coisa um pouco mais longe, podemos imaginar os Castelhanos a olhar para o nosso rectângulo como uma espécie de menir, um símbolo fálico, que, neste cenário humorista, lhes estaria faltando. Se 45% deles pensa assim, as coisas vão mal do lado de lá da fronteira.E olé!
Só quem desconhece a União Europeia acredita que ela é um atentado contra a "vaca sagrada" da independência nacional.
Gostei da imagem fálica: mostra como, numa questão tão sensível (como a que resulta da utilização do dito cujo…), a Espanha não é nada sem “nosotros”…
PVM
Esse Pepe Zaramago que se acautele, quando Espanha der por isso estará encolhida, afinal até os Andaluzes se dizem uma nação.
Talvez o Zaramago tenha de conseguir um passaporte das Canárias.
Em Espanha é tradição fuzilar gente por traições muito menores.
Muitos gritariam "Zaramago al paredón!!!!"
Perro Andaluz ou Cão Atlântico?
É irrelevante.
Para nós o que verdadeiramente importa é a
Portugaliza
Que pena ver portugueses inferiorizando-se.
Leiam a história.
Resgatem a memória de um país para lá de pequeno mas que se agigantou.
Inveja de espanhóis e ingleses que destruiram este país.
Concordo. Que pena que nós portugueses nos esquecemos do passado e perdemos a fé no futuro.
Vamos acordar!!!!
PORTUGAL = MERDA
Portugal é bom para uma minoria de portugueses ...
Eu sonho de possuir uma nacionalidade Ibérica e nao espanhola .
Com uma nacionalidade en comum podiamos fazer economias de embaixadas etc .
Portugal é um grande pais de exportaçao de carne humana , viva a merda de Portugal ........
Teixeira ( França )
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