Há tempos deu brado a decisão de impedir escanzelados modelos femininos de desfilarem numa passagem de modelos em Madrid. Consciências pudicas incomodaram-se com a ousadia: insurgiram-se contra a interferência na vida pessoal dos manequins, que têm o direito a exibir a ossatura bem definida pelas passerelles do mundo.
Por cá pediram a opinião a conceituados representantes do “mundo da moda” (e hei-de insistir, sempre, em grafar estas palavras, que só fazem sentido quando enquadradas pelas aspas). Estavam indignados. Não porque a bitola do peso e do índice de massa corporal imposto às meninas imberbes (que, sempre com cara de poucos amigos, desfilam os trapos) possa invadir a esfera íntima das opções pessoais. Os “criadores” de moda indígenas foram sensíveis aos seus interesses egoístas. Convencionaram que os desfiles de moda são o espelho de uma nova estética do corpo: esquálidas jovens esfalfam-se por conseguir colocar uma perna à frente da outra sem serem derrubadas por uma rajada de vento que tenha entrado de surpresa no recinto. Este egoísmo desnuda a falta de autoridade dos ditos “criadores”.
Perturba-me tudo o que sejam leis intrusivas das escolhas pessoais. Seria o mote para andar de braço dado com aqueles que protestaram contra a decisão tomada em Madrid. Não tenho a certeza, mas fiquei com a impressão que a decisão partiu dos promotores do desfile. Se não houve dedo manipulador do governo dos bons costumes de Zapatero, não é uma medida repudiável. Pelo contrário, é de aplaudir o desassombro de quem teve a coragem de zelar pela saúde das macilentas manequins. E romper com os hábitos estabelecidos, procurando um nova estética corporal que desista do elogio dos ossos.
Consta que no “mundo da moda” impera um regime monástico quando chega o momento das meninas abrirem a boca na necessária ingestão de víveres. E consta que os meninos da “moda” tomam hormonas femininas para jamais crescerem pilosidades peitorais que destruam a aura metrosseuxal que os empurra para a androginia. Um espartilho que sufoca as meninas com aspirações a desfilar nas passerelles espalhadas pelo mundo fora. As sacrificiais vítimas do esplendor oco da moda não podem ter tentações da gula, não vão uns míseros gramas de açúcar adicionar calorias que descompõem as trágicas figuras em que se transfiguraram. É uma ditadura demoníaca, com agentes a fazerem as vezes de cães de fila espiando o que entra pela goela das protegidas.
(Que, depois de um desfile, nas usuais festas mais ou menos privadas, as meninas descambem para uma orgia de drogas, é de somenos importância. Até ajuda: a manter a linha e a tornar as meninas ainda mais acéfalas do que já eram quando decidiram enveredar pelo luminoso “mundo da moda”).
O que me intriga é a estética corporal divulgada pelos “criadores da moda”. Será por antinomia com a bulimia que afecta milhões de norte-americanos, reconhecidos à distância nos aeroportos quando passeiam as banhas avantajadas, corpos que dariam para dois do meu (e para aí três ou quatro cinturinhas das delgadíssimas manequins na – e da – “moda”). Porventura não o sabemos, mas o “mundo da moda” é embaixador dos bons hábitos alimentares. Quer enviar sinais descodificados para os países (sempre ricos) que teimam em permitir que maus hábitos alimentares estraguem a saúde pública e desfeiem a estética corporal das pessoas. No fim de contas, a “moda” presta um serviço inestimável à vista. Pena que caia num excesso, ao traduzir uma opção estética de gosto duvidoso. Que, para mais, prejudica a saúde das meninas que cambaleiam passerelle fora.
É curioso como nisto da estética deparamos com padrões voláteis ao longo do tempo. Lembro-me de visitar o museu Rubens, em Antuérpia, onde os quadros e as estátuas reproduzem avantajadas mulheres nuas, sem pudor de mostrar as adiposidades que, nos padrões de hoje, entram no patamar do repugnante. Tantos séculos mais tarde, passámos à outra extremidade. Caras encovadas, pernas que deixam à mostra a saliência das tíbias quando tocam nas rótulas, eis os modelos femininos que desfilam a nova forma de fealdade agasalhada em revisitada estética dos corpos. É vê-las, sem graciosidade, desconchavadas, talvez com um esgar de antipatia que reflecte o estado de espírito de quem passa fome. Os seus passos estilhaçados, mais parecendo que a qualquer momento vão-se desmembrar.
Já foi tempo das curvilíneas mulheres que enchiam as medidas de masculinos olhos insaciáveis. Hoje, até nisto, pespegam-nos uma dieta intolerável. Daqui o repto: que as meninas se libertem dos espartilhos da dieta forçada que as leva à anorexia.
2 comentários:
Eu diria, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. E acrescento, entre a menina da foto, que parece ter saído de um campo de refugiados na Etiópia dos anos 80 e a Helène Fourment (segunda mulher de Rubens), eu cá ia com esta. Pelo menos tem um ar saudável que as anoréticas e as bulímicas não têm.
para rui miguel ribeiro:
nao apoio de forma alguma a anorexia max era só pa dizer k á pouco tempo decobri k a modelo k extá nessa foto é nada mais nada menos k a modelo maix famosa e bem sucedida do mundo GISELE BUNDCHEN
a culpa dexta "moda" é de kem apoia e dá trabalho a modelos como esta (ke recebe milhoes só por desfilar),e k convence raparigas de que akilo é k é bonito
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